A Esperança Pulsa: O Panorama do Transplante de Coração no Brasil

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Brasília – O Brasil possui o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo, oferecendo acesso universal e gratuito a procedimentos de alta complexidade, incluindo o transplante de coração. Apesar dos avanços técnicos e de recordes recentes no número de procedimentos realizados, a fila de espera e a alta taxa de recusa familiar de doação continuam sendo os principais desafios a serem superados.

O transplante cardíaco é o tratamento definitivo para pacientes em estágio avançado de insuficiência cardíaca (IC), uma condição que afeta milhões de brasileiros.

Fila Única e Critérios de Gravidade

No Brasil, a lista de espera para transplantes é única e nacional, gerenciada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, valendo tanto para pacientes do SUS quanto da rede privada.

A ordem de prioridade na fila de transplante de coração não é puramente cronológica, mas baseada em critérios técnicos e de gravidade, que garantem que o órgão vá para quem mais precisa e para quem tem maior compatibilidade:

  1. Compatibilidade: Tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, e compatibilidade genética são primordiais.
  2. Gravidade Clínica: Pacientes em estado crítico, internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) ou utilizando dispositivos de assistência circulatória para sobreviver, recebem prioridade máxima.

Essa regra assegura que, em casos urgentes, o transplante seja realizado rapidamente.

Desafios: A Barreira da Recusa Familiar

Apesar da excelência e da universalidade do sistema, o gargalo do transplante de coração, e de órgãos em geral, está na escassez de doadores.

  • Taxa de Recusa: A maior barreira é a negativa familiar. Enquanto países com sistemas robustos, como a Espanha, registram taxas de recusa abaixo de 10%, no Brasil, mais de 40% das famílias recusam a doação dos órgãos de um ente diagnosticado com morte encefálica.
  • Logística e Concentração: Há uma desigualdade regional significativa. A maior parte dos centros de transplante e dos procedimentos se concentra nas regiões Sul e Sudeste, dificultando o acesso em outras áreas, como Norte e Nordeste, onde a estrutura hospitalar e logística para captação e transporte de órgãos ainda é limitada.
  • Disparidade: Embora o número absoluto de transplantes de coração tenha crescido nos últimos anos, o número de pacientes que aguardam por um órgão (cerca de 400 a 450, em dados recentes) é muito superior ao de procedimentos realizados anualmente (que, embora tenha atingido recordes, gira em torno de 300).

O Caminho para Aumentar a Doação

Para reduzir o tempo de espera e salvar mais vidas, o foco se volta para a conscientização e a estrutura do sistema:

  • Diálogo Familiar: A solução passa por intensificar campanhas de conscientização que reforcem a importância de a pessoa manifestar, em vida, o desejo de ser doadora. No Brasil, a decisão final é sempre da família, tornando o diálogo prévio essencial.
  • Qualificação Profissional: O processo de captação de órgãos é complexo e depende da correta identificação da morte encefálica e da abordagem familiar humanizada. O aprimoramento contínuo dos profissionais de saúde é crucial.

O transplante de coração representa a esperança de uma segunda chance. Investir na conscientização e no fortalecimento da estrutura do SNT é fundamental para que mais corações voltem a pulsar no país.

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