Sanidade em Foco: O Calendário de Vacinação de Bovinos no Brasil

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A vacinação é o pilar da sanidade na pecuária brasileira, sendo um fator crucial para a saúde do rebanho, a produtividade da fazenda e, principalmente, para garantir a competitividade do Brasil no mercado internacional de carnes. O calendário vacinal de bovinos no país é regido por diretrizes federais e estaduais, com destaque para as doenças que são objeto de programas nacionais de controle e erradicação.

Para o produtor, conhecer e seguir este cronograma é uma obrigação legal e uma estratégia de manejo indispensável.


As Vacinas Obrigatórias: Programas Nacionais de Controle

No Brasil, duas doenças possuem vacinação compulsória, ou seja, são exigidas por lei pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e fiscalizadas pelos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária.

1. Febre Aftosa

A Febre Aftosa é a vacina mais conhecida e emblemática, responsável por garantir o status sanitário do país e abrir portas para a exportação.

  • Obrigatoriedade: Bovinos e bubalinos.
  • Cronograma: O Brasil está em um processo de transição para se tornar totalmente livre de febre aftosa sem vacinação. O calendário varia de acordo com o estado e a zona sanitária:
    • Maioria dos Estados (Zonas de Vacinação): A vacinação ocorre em uma ou duas etapas anuais, geralmente em Maio (para todas as idades) e Novembro (para animais jovens, até 24 meses).
    • Estados Livres de Vacinação (Ex: SC, PR, RS): Nesses estados, a vacina é suspensa, e o foco é a vigilância intensiva, conforme o Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PNEFA).
  • Declaração: Após a compra e aplicação da vacina, o produtor é obrigado a declarar a vacinação ao órgão de defesa sanitária estadual dentro do prazo estipulado (normalmente 7 a 15 dias após o fim da campanha).

2. Brucelose

A vacinação contra a Brucelose faz parte do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), visando proteger o rebanho e a saúde pública (é uma zoonose).

  • Obrigatoriedade: Somente em fêmeas bovinas e bubalinas.
  • Idade: Dose única em bezerras com idade entre 3 e 8 meses (imprescindível respeitar essa faixa etária).
  • Vacina: É utilizada a vacina B19 ou, em casos específicos, a RB51.
  • Aplicação: A vacinação deve ser feita exclusivamente por um Médico Veterinário cadastrado no serviço de defesa oficial, que é responsável pela marcação das bezerras (com um “V” no lado esquerdo da face) e pela emissão do atestado.

Vacinas Recomendadas: Proteção e Produtividade

Além das obrigatórias, o Médico Veterinário deve traçar um calendário customizado para cada fazenda, focando nas doenças de maior risco na região e no sistema de produção (corte, leite ou reprodução).

DoençaCategoria de RiscoProtocolo Padrão
ClostridiosesAlta (Causam morte súbita)Dose inicial (a partir de 4 meses) + Reforço (30 dias depois) + Revacinação Anual de todo o rebanho.
Raiva BovinaRegiões Endêmicas (Com presença de morcegos)Dose inicial (a partir de 4 meses) + Reforço (30 dias depois) + Revacinação Anual.
Reprodutivas (Leptospirose, IBR/BVD)Rebanhos ReprodutoresProtocolo de duas doses com reforço (30-60 dias antes da estação de monta) e revacinação anual para machos e fêmeas.
BotulismoOcorrência Localizada (Falta de fósforo no solo)Duas doses iniciais com intervalo e revacinação anual.

Dicas Essenciais para o Manejo de Vacinação

  1. Planejamento Anual: O calendário sanitário deve ser elaborado anualmente com o Médico Veterinário da fazenda, considerando as categorias animais (bezerros, novilhas, matrizes, touros) e o tipo de produção.
  2. Corrente do Frio: As vacinas são produtos biológicos sensíveis. É crucial que sejam transportadas e armazenadas sob refrigeração constante (entre $2^\circ\text{C}$ e $8^\circ\text{C}$) até o momento da aplicação.
  3. Reforço é Vital: Para muitas vacinas (Clostridioses, Raiva), a primeira imunização exige uma dose de reforço após 30 dias para garantir a proteção efetiva. Sem o reforço, o animal não está totalmente imunizado.
  4. Boas Práticas: Utilize agulhas novas e esterilizadas, siga rigorosamente a via de aplicação (subcutânea ou intramuscular) e o volume de dose recomendado pelo fabricante.

A vacinação do gado é mais do que cumprir a lei; é um investimento na longevidade e na rentabilidade da atividade pecuária. A ausência de um plano sanitário eficaz pode levar a perdas elevadas por doenças, inviabilizando o negócio.

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