Leishmaniose Canina: A Zoonose Silenciosa e a Prevenção Total

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Saúde Pública — A Leishmaniose Visceral Canina (LVC) é uma das doenças parasitárias de maior relevância no Brasil, causada pelo protozoário Leishmania infantum. Classificada como uma zoonose, ela atinge cães, que são os principais reservatórios domésticos da doença, e pode ser transmitida aos seres humanos, sendo fatal se não for tratada. O combate à leishmaniose exige um esforço conjunto de saúde pública, controle ambiental e vigilância veterinária.

O Vetor: Um Inimigo Silencioso

A doença é transmitida pela picada da fêmea do flebotomíneo, popularmente conhecido como mosquito-palha ou birigui (Lutzomyia longipalpis). Este inseto, de tamanho diminuto e coloração clara, tem hábitos noturnos e prolifera em ambientes com matéria orgânica em decomposição (como lixo, folhas secas e restos de plantas), diferente do mosquito da dengue.

O ciclo de transmissão é claro: o mosquito-palha pica um cão infectado (reservatório), adquire o parasita e, ao picar um novo hospedeiro (outro cão ou um ser humano), transmite a doença.

🔍 Sinais de Alerta: Olhos, Pele e Unhas

A leishmaniose é frequentemente traiçoeira porque a fase inicial pode ser assintomática (o cão não apresenta sinais, mas transmite a doença) ou os sinais são muito inespecíficos.

Quando os sintomas aparecem, eles são variados e geralmente afetam múltiplos sistemas do corpo:

  • Pele e Pelos: Lesões cutâneas secas, dermatite, descamação (caspa excessiva) e perda de pelos (alopecia), especialmente ao redor dos olhos e focinho, formando a característica lesão em “óculos”.
  • Emagrecimento: Perda de peso progressiva e atrofia muscular, mesmo que o apetite do animal permaneça normal.
  • Unhas (Onicogrifose): Crescimento exagerado e anormal das unhas.
  • Linfonodos: Aumento dos gânglios (linfonodos), que se tornam palpáveis, principalmente na região do pescoço e atrás das pernas.
  • Outros Sintomas: Feridas que não cicatrizam (especialmente na ponta das orelhas e no focinho), febre, apatia e, em fases avançadas, insuficiência renal.

🔬 Diagnóstico e Tratamento no Brasil

O diagnóstico precoce é vital e é feito através de uma combinação de exame clínico e testes laboratoriais específicos (sorologia, PCR ou aspiração de medula óssea/linfonodos).

Situação do Tratamento: No Brasil, após anos de controvérsia e com a evolução da medicina veterinária, o tratamento da leishmaniose visceral canina é permitido e regulamentado pelo Ministério da Saúde (Portaria Interministerial nº 1.426, 2008), mediante uso de fármacos específicos (como a Miltefosina) sob supervisão veterinária.

No entanto, o cão tratado não é considerado curado no sentido parasitológico, pois o objetivo é controlar os sintomas e reduzir a carga parasitária. Por ser um reservatório, o animal tratado deve ter seu estado de saúde monitorado e rigorosas medidas de controle de transmissão devem ser adotadas.

✅ A Chave é a Prevenção Integrada

A estratégia mais eficaz para evitar a leishmaniose envolve a combinação de medidas de proteção individual e ambiental:

  1. Coleiras Repelentes: O uso de coleiras à base de deltametrina é a principal barreira química, pois repele e mata o mosquito-palha antes que ele pique o cão. Devem ser trocadas no prazo recomendado pelo fabricante.
  2. Vacinação: A vacina específica contra a Leishmaniose é uma ferramenta crucial na prevenção, devendo ser aplicada em cães saudáveis, após a testagem sorológica negativa.
  3. Controle Ambiental: Manter o ambiente limpo, removendo matéria orgânica (folhas, fezes, restos de frutas) que servem de criadouro para o mosquito-palha.
  4. Uso de Telas: Instalar telas finas nas janelas de casa e no canil pode ajudar a evitar a entrada do vetor, que é pequeno e silencioso.

A leishmaniose é uma doença que pode ser controlada com informação e responsabilidade por parte dos tutores e das autoridades de saúde.

Consulte sempre um médico veterinário para o correto diagnóstico e definição do protocolo de prevenção mais adequado para o seu pet.

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