Agronegócio Brasileiro: Federações Estaduais Entre Atuação e Política

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O agronegócio é, sem dúvida, um dos pilares da economia brasileira, respondendo por uma parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) e garantindo a segurança alimentar do país e do mundo. Nesse cenário complexo, as federações estaduais de agricultura e pecuária (como FAEG, FAEMG, FARSUL, entre outras, ligadas à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA) desempenham um papel crucial. Mas qual é a real atuação dessas entidades: são verdadeiramente atuantes na defesa dos produtores ou meramente politiqueiras?

O Gigante Agrícola e o Papel das Federações

O Brasil é uma potência agrícola global. A exportação de commodities como soja, milho, carne bovina e aves impulsiona a balança comercial e gera milhões de empregos. É nesse contexto que as federações estaduais se inserem, com a missão declarada de:

  • Representar o produtor rural: Defender os interesses da classe junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
  • Promover o desenvolvimento: Oferecer capacitação, assistência técnica, acesso a crédito e tecnologias para aumentar a produtividade e a sustentabilidade no campo.
  • Coordenar a ação sindical: Unir os sindicatos rurais municipais para fortalecer a voz do setor.
  • Atuar em políticas públicas: Propor e influenciar legislações e programas que beneficiem o agronegócio.

Atuação Concreta: Projetos e Serviços

Muitas federações estaduais demonstram uma atuação robusta com projetos e serviços diretos aos produtores. Exemplos incluem:

  • Programas de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG): Oferecem consultoria especializada para melhorar a gestão das propriedades rurais.
  • Cursos de Capacitação: Em parceria com o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), promovem cursos em diversas áreas, desde manejo de culturas até uso de tecnologias.
  • Defesa Sanitária: Atuam na prevenção e combate a doenças animais e vegetais, protegendo a produção.
  • Acesso a Mercados: Auxiliam produtores a acessar novos mercados e a se adequarem a exigências internacionais.
  • Inovação e Tecnologia: Incentivam a adoção de agricultura de precisão, bioinsumos e outras inovações.

Essas ações, quando bem executadas, têm um impacto direto e positivo na vida do produtor rural, na eficiência da produção e na sustentabilidade do setor.

A Linha Tênue entre Atuação e Política

No entanto, a atuação das federações nem sempre é vista apenas sob a ótica técnica e de representação de classe. A proximidade com o poder político é inerente à sua função de defender os interesses do setor. É nesse ponto que surgem os questionamentos:

  • Influência Política: As federações, por sua representatividade e poder econômico, exercem forte influência no Congresso Nacional e nos governos estaduais. Essa influência, por vezes, pode ser percebida como uma atuação excessivamente política, priorizando agendas partidárias ou interesses de grupos específicos em detrimento de uma visão mais ampla do agronegócio.
  • Críticas à Postura: Há momentos em que as federações são criticadas por posições consideradas inflexíveis em debates sobre questões ambientais, direitos trabalhistas ou reforma agrária, o que pode gerar atritos com outros setores da sociedade e até mesmo com o próprio governo.
  • Representatividade: Questiona-se, em alguns casos, se as federações representam igualmente os interesses de grandes, médios e pequenos produtores, ou se a balança pende mais para os grandes atores do agronegócio.

Recentemente, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que congrega as federações, tem se manifestado de forma mais incisiva sobre a agenda econômica e política do país, chegando a criticar publicamente o governo em temas como o “tarifaço” e a “obsessão com o passado”, reforçando a percepção de uma atuação política mais contundente.

Conclusão: A Complexidade de um Setor Vital

As federações estaduais de agricultura e pecuária são, inegavelmente, atores fundamentais para o agronegócio brasileiro. Sua capacidade de organização, mobilização e defesa dos interesses do setor é imensa. Contudo, a linha entre a atuação técnica e a política é tênue, e a percepção pública sobre sua eficácia e imparcialidade varia.

Para o futuro, o desafio dessas entidades é equilibrar a defesa intransigente dos interesses dos produtores com uma visão mais abrangente das demandas sociais e ambientais, garantindo que sua influência contribua para um agronegócio não apenas produtivo, mas também sustentável e inclusivo. O debate sobre seu papel continuará, mas sua relevância para a economia brasileira permanece indiscutível.

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