Brasil
COLUNA DO RICARDO VIVEIROS
UMA DISSERTAÇÃO CLARA SOBRE IMPRENSA, GOVERNANTES E FATOS.
IMPRENSA, GOVERNANTES E FATOS
“A imprensa… Ah!… A imprensa… Sempre batendo e nunca elogiando.”
Ouço isso há mais de meio século.
Entretanto, também observo, e na prática, que a imprensa se arrisca desde sempre para levar informação dos fatos à sociedade.
Que foi a responsável por grandes conquistas brasileiras, como a independência, a república, a abolição da escravatura, a redemocratização, a melhoria das condições de vida, os direitos humanos, o combate à corrupção, a economia equilibrada e mais produtiva, campanhas de saúde, educação, cultura e muitos outros positivos aspectos de interesse da sociedade.
A imprensa existe para governados, não para governantes.
Precisa mostrar o que acontece.
E nem sempre o que acontece é bom, infelizmente.
Há, por vezes, distorções, exageros, equívocos?
Sim.
Vários são corrigidos, alguns poucos não. Jornalista é um ser humano, tem como qualquer outro suas preferências, paixões, cores.
E também erra.
Entretanto, como qualquer bom profissional, seu compromisso maior é com a verdade, porque é ela que lhe garantirá o sucesso na carreira.
Informar fatos, não versões deles conquista a confiança do público.
Sem credibilidade não existe mídia.
Liberdade de expressão exige responsabilidade de expressão.
Os jornalistas dariam tudo para noticiar a paz mundial, o fim da corrupção, a cura do câncer, zero desemprego no Brasil, nenhum ato de violência em todo o País, nenhuma criança fora da escola, total respeito aos direitos humanos e por aí vão as informações que fariam a felicidade de qualquer um de nós, profissionais da comunicação.
É interessante observar que, quando se critica um governante, os seus correligionários e admiradores afirmam, de pronto, que a imprensa os está perseguindo, está sendo injusta.
Que tal pensar que tanto a esquerda quanto a direita, ou seja, que nenhum dos dois lados deixou de reclamar da mídia quando no exercício do poder?
Quando todos se dizem perseguidos, injustiçados, demonstram que a imprensa é isenta, imparcial, não tem lado que não seja o do compromisso com a verdade, o do interesse da sociedade.
E os governantes reclamam que, ao realizar coisas boas, ninguém noticia.
É claro que a imprensa noticia, entretanto não fica elogiando, porque fazer, realizar, não roubar, ser justo é obrigação, dever, e não uma virtuosa qualidade.
Ninguém elege um governante para agir diferente.
Você leria com interesse a notícia de que o presidente da República é ético, capaz, trabalhador e não rouba?
Não!
Você desconfiaria do repórter, do veículo.
Quando a imprensa aponta os líderes populistas e autoritários em todo o mundo, alguns são figurinhas, embora carimbadas, sempre lembradas: o norte-americano Donald Trump, que tenta voltar ao governo; o turco Recep Erdoğan; o húngaro Viktor Orbán; o polonês Andrzej Duda; o austríaco Sebastian Kurz; o sudanês Omar Al-Bashir; o sírio Bashar Hafez al-Assad; o indiano Narendra Modi; a francesa Marine Le Pen; o norte-coreano Kim Jong-un; e o africano Robert Mugabe, do Zimbábue.
Porque eles dão motivos.
Há um nome, entretanto, que raramente aparece:
O israelense Benjamin Netanyahu.
Ou melhor, não aparecia…
O professor e escritor norte-americano Larry Diamond, da Universidade de Stanford (EUA), denomina “recessão democrática” o ambiente que explica a transformação pela qual alguns líderes mundiais têm passado.
E Netanyahu é um deles, merecendo entrar na lista.
Em 2019, pesquisa de opinião junto aos israelenses revelou que 54% temiam que a democracia do país corria sério risco.
Nada mudou de lá para cá.
Netanyahu se mantém no poder com uma base de apoio forte, porém pequena.
Foi em seu governo que o Parlamento definiu formalmente o país como um Estado judeu, ignorando a minoria árabe.
Leis para dificultar a ação de ativistas políticos que defendem direitos palestinos foram sancionadas.
Dirigentes de ONGs que lutam por liberdade de expressão e direitos humanos foram expulsos do país.
Netanyahu está sendo processado por corrupção pelo Ministério Público de Israel, são seis acusações.
E, agora, também por crime de guerra.
Como seu amigo Bolsonaro, ele ataca permanentemente a imprensa que publica esse tipo de informação levando a verdade dos fatos ao conhecimento da sociedade.
Ou seja, cumprindo o seu papel de informar.
A história dos conflitos entre israelenses e árabes é antiga.
Tanto quanto os esforços pela paz na região.
O atual governo de Israel, entretanto, não optou pelo entendimento como muitos de seus antecessores.
Sua política para o complexo problema é fingir que ele não existe.
No entanto, de modo discreto, não deixa de dar apoio aos extremistas.
O mais interessante é que Netanyahu não era assim, embora conservador.
Mas não um populista radical, autoritário e nada liberal.
Mudou.
E para pior, se levarmos em conta que o mundo precisa de paz.
Israel sempre foi um país que buscou ser um estado pluralista, laico – o Estado Moderno Judeu, não fundamentalista, com espaço respeitoso e livre para pessoas de todos os credos e ideologias.
Essa mudança de orientação dada por Netanyahu é exatamente o que o Ocidente critica no Oriente Médio; pautas políticas que, pouco a pouco, se tornam pautas religiosas radicais, gerando mais conflitos e tornando impossível a paz.
Diante dos fatos, impossível não lembrar do legítimo líder David Ben-Gurion, um homem ético, justo e progressista que honrou Abraão, Moisés, Davi, Salomão e a história do judaísmo.