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Coluna do Ricardo Viveiros

COLUNA DO RICARDO VIVEIROS

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ENTRE O AMOR E O ÓDIO

Na era digital, na dinâmica da modernidade, tudo mudou.

Entretanto, algumas coisas boas e algumas coisas ruins permanecem como foram desde sempre.

Muda apenas a forma.

Eu sempre achei que ser namorado é o mais perfeito estado civil, pena que não é reconhecido como tal.

A rigor, se fosse, talvez estragaria tudo.

Namorado é – o tempo todo – romântico, criativo, amoroso, apaixonado, atraente, conquistador, generoso, atento, amigo, cúmplice, amante, parceiro e, acima de tudo, compreensivo, paciente e corajoso.

Marido e companheiro nem sempre.

Namorado age como se tivesse um imenso compromisso, embora seja livre e respeite a liberdade da pessoa amada.

Passa o tempo todo construindo a relação como se fosse um grande castelo.

Namorado sonha, e realiza sonhos.

Namorado é determinado com a maior qualidade de uma relação: conquistar.

E isso é o que lhe dá um estado de espírito diferente, especial e encantador.

E relação sem encantamento não tem sucesso. 

Namorado diz palavras bonitas, faz surpresas, reinventa o mundo, transforma realidades.

Namorado é o único ser repetitivo que não é chato, porque a pessoa amada adora ouvir de novo: “Eu te amo!”.

E namorado sabe dizer isso a cada nova vez sem mais do mesmo, fora da caixinha.

Igual a tudo na vida, namorado tem princípio, meio e fim como determinou, na antiguidade clássica, o filósofo grego Aristóteles.

Em suas famosas unidades, escritas entre 335 a.C. e 323 a.C., embora com outros afazeres, ele se ocupou de ensinar a como escrever poesia.

Já havia o amor. 

Há, na vida, diferentemente do jeito maravilhoso de ser namorado, muitas coisas que mudam, de maneira drástica, com o tempo.

E não têm as unidades aristotélicas, são eternas porque, como o amor, também o ódio e outros sentimentos menores fazem parte da alma humana.

Exemplo disso está em como mudaram os golpes de estado.

O namorado incorporou apenas a tecnologia, envia palavras de amor pela internet.

O político golpista mudou a forma de rasgar constituições, destruir democracias, desrespeitar liberdades.

Comete crimes, aparentemente delicados, contra a sociedade, agora sem fuzis e canhões.

O golpe, hoje, acontece de modo mais lento, desestruturando as instituições por dentro, em certos casos até com eleições.

É preciso estar atento e forte.

Como no mais puro amor, lembrando sempre a necessidade da eterna vigilância contra o ódio.

E reagir a qualquer tipo de sedução da consciência.

Como todo dia é Dia dos Namorados, surpreenda a pessoa amada, seja quem for, dizendo o que provavelmente ela já sabe, mas que gostará de ouvir de novo e sempre: “Eu te amo”.

E sorria, cante, dance, escreva, desenhe, brinque – o namorado tem licença para ser assim, um adorável maluquinho.

Só o namorado, o político não!

Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura (Universidade Presbiteriana Mackenzie); autor, dentre outros livros, de "A vila que descobriu o Brasil", "Justiça seja feita" e "Memórias de um tempo obscuro". Apresenta o programa “Brasil, mostra a tua cara!” às sexta-feiras, 23 horas, na TV Cultura.

1 Comentário

1 Comentário

  1. Vitor Silva

    junho 12, 2024 at 11:12 am

    Lindas e verdadeiras palavras!

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