Da planta à barra: A jornada da produção de cacau no Brasil
O Brasil, um dos maiores produtores de cacau do mundo, celebra a rica e complexa jornada do fruto que se transforma em chocolate. Com uma história que remonta a séculos e uma produção concentrada principalmente no bioma amazônico e na Mata Atlântica, a cacauicultura brasileira tem superado desafios e abraçado a sustentabilidade.
O Cultivo: Da Semente à Colheita
O cultivo do cacaueiro, uma planta que pode viver por até 100 anos, é um processo meticuloso. Ele prospera em solos férteis, ricos em matéria orgânica e com boa drenagem. A melhor época para o plantio é durante o período de chuvas, garantindo a umidade necessária para o desenvolvimento da planta. A colheita, que ocorre duas vezes ao ano (o “temporão” e a safra principal), é realizada manualmente, com ferramentas como tesouras de poda e facões, para não danificar a planta.
Após a colheita, os frutos são abertos para a retirada das sementes, que passam por duas etapas cruciais para a qualidade final do chocolate:
- Fermentação: As sementes são colocadas em caixas de madeira e cobertas com folhas de bananeira por vários dias. Este processo desenvolve os sabores e aromas característicos do cacau.
- Secagem: As sementes fermentadas são secas ao sol ou em estufas, até atingirem o nível ideal de umidade.
Tipos de Cacau e a Produção Nacional
Existem três principais tipos de cacau cultivados globalmente:
- Criollo: Conhecido como o “cacau nobre”, produz amêndoas grandes e claras com sabor suave e pouco amargo.
- Forastero: É o tipo mais comum, representando cerca de 80% da produção mundial. É mais resistente a pragas e doenças. O tipo “Amelonado”, uma variedade de Forasteiro, é o principal tipo produzido no Brasil.
- Trinitário: Um híbrido dos dois anteriores, combinando a robustez do Forastero com os sabores finos do Criollo.
No Brasil, a produção se concentra no Pará (que lidera o ranking nacional) e na Bahia, estados que respondem pela maior parte das mais de 265 mil toneladas de amêndoas produzidas anualmente.
Desafios e Tendências
A cacauicultura brasileira tem se recuperado da crise da “vassoura-de-bruxa”, um fungo que devastou as plantações na década de 1980. Hoje, o setor aposta em:
- Sistemas Agroflorestais (SAFs): O cultivo de cacau à sombra de árvores nativas da Mata Atlântica e da Amazônia, conhecido como “cabruca” na Bahia, contribui para a preservação ambiental e a biodiversidade.
- Cacau Fino: O investimento em amêndoas de alta qualidade e com sabores únicos, que alcançam maior valor de mercado, é uma tendência crescente.
- Tecnologia e Inovação: A pesquisa da Embrapa e de outras instituições tem focado no desenvolvimento de variedades mais resistentes a doenças e em técnicas para aumentar a produtividade.
A busca por práticas sustentáveis e pela valorização do produto final tem impulsionado o setor, posicionando o Brasil como um player importante no mercado global, não apenas em volume, mas também em qualidade.
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