Ouro Branco em Xeque: Seringueira é vital para a economia, mas produtor enfrenta “apagão” de mão de obra e preços baixos

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Brasil importa quase 60% da borracha que consome, mesmo tendo potencial para ser autossuficiente; setor aposta na tecnologia e no crédito de carbono para voltar a crescer.

Por Luís Ricardo Garcia Sapia 6 de dezembro de 2025

Quando se fala em “Ouro Branco” no agronegócio, a referência histórica nos remete aos tempos áureos da Amazônia. Porém, em 2025, o mapa da borracha mudou radicalmente. Hoje, o coração da produção de látex no Brasil pulsa no Sudeste e Centro-Oeste, longe da floresta nativa, mas enfrenta uma crise silenciosa que ameaça uma cadeia produtiva essencial para o país.

A seringueira (Hevea brasiliensis) é a base de uma indústria gigantesca. Sem ela, o Brasil literalmente para: cerca de 70% de toda a borracha natural produzida vai para a fabricação de pneus (de carros a caminhões e aviões). O restante abastece a indústria médica (luvas), calçados e autopeças.

A Nova Geografia da Borracha

Esqueça a imagem do seringueiro na mata fechada. A heveicultura moderna é tecnificada e se concentrou no chamado “Planalto Paulista”. O estado de São Paulo responde hoje por mais de 55% da produção nacional, seguido por Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás.

A migração ocorreu por uma questão fitossanitária: fugir do “Mal das Folhas”, um fungo que dizimou as plantações na Amazônia úmida, mas que não sobrevive no clima com estação seca definida do Sudeste.

O Dilema do Produtor: Preço x Custo

Apesar da demanda garantida, o produtor brasileiro está desanimado. O Brasil produz apenas cerca de 40% do que consome; o restante vem importado da Ásia (Tailândia, Indonésia e Vietnã), que dita o preço internacional.

“O preço pago pelo coágulo (a borracha bruta) não tem acompanhado a inflação dos insumos. Estamos competindo com países onde a mão de obra é extremamente barata e subsidiada”, explica um produtor da região de São José do Rio Preto.

O “Apagão” dos Sangradores

O maior gargalo atual não é praga, é gente. A extração do látex (sangria) é um trabalho artesanal, que exige técnica e esforço físico. As máquinas ainda não conseguem substituir o olho humano para fazer o corte na casca da árvore sem ferir a madeira.

Com o envelhecimento da força de trabalho rural e a falta de interesse dos jovens, os seringais enfrentam um apagão de mão de obra. O custo com o parceiro-meeiro (o trabalhador que divide o lucro com o dono da terra) subiu, estreitando ainda mais a margem de lucro.

A Virada Sustentável: O Trunfo do Carbono

Se a margem na venda da borracha está apertada, a salvação pode vir do céu — ou melhor, do ar. A seringueira é uma das árvores com maior capacidade de sequestro de carbono do planeta.

O mercado de Créditos de Carbono surge como a nova fronteira de rentabilidade para o setor. Empresas que precisam compensar suas emissões estão pagando produtores para manterem suas florestas de seringueira em pé. Além disso, a madeira da seringueira velha (após 30 anos de ciclo produtivo) é nobre e tem alto valor para a indústria moveleira, fechando um ciclo 100% sustentável.

Conclusão

O Brasil tem terra, tecnologia genética (clones de alta produtividade desenvolvidos pelo Instituto Agronômico) e clima. O desafio para os próximos anos é mecanizar parte do processo e criar políticas de preço mínimo que protejam o produtor nacional da volatilidade asiática. Sem isso, o país continuará dependente de navios estrangeiros para rodar sua frota nas estradas.


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