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Portugal: Desempenho da economia é trunfo para articulação do novo governo.

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O premiê demissionário António Costa considera fundamental garantir um ambiente de solidez ao futuro gabinete

Boa situação deixada pelos socialistas permitirá ao futuro gabinete negociar com tranquilidade. O desafio será reverter o sentimento de exclusão que atinge a população e é explorado pela ultradireita.

Lisboa — A economia será um dos principais trunfos de Luís Montenegro como primeiro-ministro de Portugal, caso a Aliança Democrática (AD) assuma o comando do país. A boa situação do caixa do Executivo, que vem registrando sucessivos superavits fiscais, a queda da dívida pública para 98,7% do Produto Interno Bruto (PIB) — o menor nível desde 2009 —, a inflação sob controle, o crescimento acima da média da União Europeia e o desemprego baixo vão permitir que o líder da centro-direita consiga cumprir parte de suas promessas de campanha, como reduzir a carga de impostos e reajustar as aposentadorias. Nesse contexto econômico mais favorável, ele terá mais tranquilidade para fazer as costuras políticas.

“Não há dúvidas de que, do ponto de vista macroeconômico, a herança deixada pelo governo socialista é muito positiva e dá um certo conforto a Montenegro. Mas é preciso ressaltar que, neste momento, o que mais pesou na decisão dos votos nas eleições de domingo foram as questões micro, como a saúde, a educação, a habitação, o outro lado da herança socialista”, diz a professora Luísa Godinho, doutora pela Universidade de Genebra, na Suíça.

Para ela, mesmo com a economia indo bem, a maior parte dos portugueses não se sente beneficiada, muito pelo contrário. “Há um sentimento grande de exclusão, que foi muito bem aproveitado pelo Chega, partido de extrema-direita que quadruplicou de tamanho e se tornou uma força relevante na Assembleia da República”, afirma.

Portanto, não bastará apenas os bons números da macroeconomia. O futuro governo da Aliança Democrática terá de convencer a população de que a vida real dela vai melhorar daqui por diante. “Se não atender a esses anseios, Luís Montenegro terá de lidar com um crescimento ainda maior do Chega, o que tenderá a ter impacto importante no partido dele, o PSD, que hoje lidera a Aliança Democrática. Todos sabem que há vozes importantes dentro da AD que são favoráveis a uma coligação com a legenda de extrema-direita já nesse início de governo”, ressalta a professora. Ela lembra que o Partido Socialista (PS), que ficou oito anos no governo e foi o grande derrotado nas urnas, falhou ao não resolver os problemas reais, mais prementes da população. O risco desse quadro se repetir é real.

Estabilidade é fundamental

No entender da professora, neste novo momento da política portuguesa, com a ultradireita fortalecida, com 48 dos 230 deputados no Parlamento, é fundamental que os partidos tradicionais, PS e PSD, tenham agilidade para se reconectarem com o eleitorado. Ainda que os portugueses sejam um tanto avessos a mudanças radicais, essas legendas devem se preparar para uma nova era da democracia, cada vez mais testada e contestada. “A reação do PSD e do PS tem de ser à altura do que fez o Chega. Se isso não ocorrer, a ultradireita vai continuar se aproveitando da insatisfação popular e impor o seu discurso radical”, assinala.

Ciente do perigo de Portugal descambar de vez para a direita radical e populista, o ainda primeiro-ministro António Costa, destaca a importância de se dar estabilidade ao futuro governo, para que consiga completar os quatro anos que as urnas lhe garantiram. Na visão dele, não é possível que, a cada dois anos, os portugueses tenham de enfrentar eleições porque o Parlamento foi dissolvido e o governo, desfeito.

“É preciso ter estabilidade legislativa, isso é um diferencial para Portugal”, ressalta Costa. Ele diz ainda ter confiança de que o próximo Executivo continuará tocando o Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), um conjunto de obras bancadas com recursos da União Europeia, entre elas, o novo aeroporto de Lisboa, cujo projeto, segundo o socialista, está praticamente pronto.

As articulações para a formação do novo governo estão a todo vapor. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deu início às conversas com os partidos que garantiram assentos no Parlamento para se chegar a um consenso e viabilizar a nova administração do país.

Em meio às articulações, há uma grande dúvida pairando no ar: qual será o resultado final das apurações das urnas, quando forem contabilizados os 211 mil votos de portugueses que vivem no exterior. A diferença entre a Aliança Democrática e o Partido Socialista está em apenas 0,8 ponto percentual, pouco mais de 55 mil votos. O novo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, já admitiu a derrota. Mas a incerteza continua no ar.

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