Riscos psicossociais entram no radar da saúde e segurança do trabalho

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Por Paulo Bittencourt, CEO do Plano Brasil Saúde

A mais recente atualização da NR-1 marca um avanço significativo na forma como o Brasil compreende e regula a saúde e segurança no ambiente de trabalho. Pela primeira vez, os riscos psicossociais — como estresse crônico, assédio, sobrecarga emocional e desequilíbrio entre vida pessoal e profissional — passam a ser reconhecidos formalmente como riscos ocupacionais, devendo ser mapeados, avaliados e gerenciados pelas empresas, assim como já ocorre com riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos e ergonômicos.

Essa mudança não é apenas técnica; é cultural. Reflete o reconhecimento, ainda que tardio, de que o sofrimento mental também adoece, afasta, incapacita e, muitas vezes, mata. O ambiente de trabalho, quando tóxico, pode ser fonte de sofrimento psíquico profundo — e cabe às organizações o dever de prevenir esse tipo de dano, assumindo responsabilidade não só pela integridade física, mas também emocional dos seus trabalhadores.

Na prática, a inclusão dos riscos psicossociais obriga as empresas a revisarem seus Programas de Gerenciamento de Riscos (PGRs), incluindo variáveis que até então não eram tratadas com a devida seriedade, como jornadas exaustivas, relações interpessoais disfuncionais, metas abusivas e ambientes de trabalho excludentes ou opressivos. Será preciso investir em diagnósticos mais sofisticados, capazes de captar sinais de adoecimento coletivo, revisar políticas internas, capacitar lideranças para o cuidado e promover espaços seguros de escuta e acolhimento.

Acredito que cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho é, hoje, uma demanda ética, legal e estratégica. Empresas que negligenciam essa dimensão correm riscos reais — não só de penalizações legais, mas também de perda de talentos, produtividade e reputação.

É importante ressaltar que essa atualização da NR-1 não representa um fardo adicional às empresas, mas sim uma oportunidade. Oportunidade de construir ambientes mais humanos, diversos, colaborativos e sustentáveis. Organizações saudáveis não nascem por acaso — elas são construídas com intencionalidade, escuta ativa, transparência e compromisso com o bem-estar coletivo.

Ao incluir os riscos psicossociais na norma, o Brasil dá um passo fundamental para uma abordagem mais completa e moderna da saúde no trabalho. É hora de tratar a saúde mental com a seriedade que ela merece. E nós, como empresas, gestores e profissionais da saúde, temos o dever de liderar essa transformação.

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