Em 2022, uma reviravolta interna mexeu com a cabeça e a carreira de Paolla Oliveira. Desde então, a atriz se orgulha de trazer consigo estandartes que anunciam o amor – pelo próprio corpo, pelo Carnaval, por sua história e por sua voz. Agora, aos 42 anos, sendo ao menos 20 deles na televisão, diz que enfim persegue o que quer (interpretar Heleninha no remake de 'Vale Tudo', por exemplo) e que perdeu o medo de negar o que não lhe cabe (seja um papel ou a opinião alheia)
Mas não foi sempre assim. “O jeito que sou vista - pelo público e pela imprensa - mudou nos últimos anos”, ela percebe. E diz isso aos 42, depois de mais de duas décadas de uma carreira construída nas principais produções da TV (só na Globo, fez entre novelas e séries, mais de 20 trabalhos). Quando diz da mudança, Paolla refere-se ao movimento que começou, mais precisamente em fevereiro de 2023, ao anunciar em seu Instagram que naquele Carnaval faria diferente. Que sua preparação para a maior festa do país seria “livre de julgamentos, feliz e conectada com cada parte potente” de si.
O recado foi dado em forma de vídeo, em que perguntava a homens comuns em um samba no barracão da Grande Rio, sua escola do coração, como se preparavam para curtir a folia. “Não vai fazer dieta, não?”, ela indagava. “E não deixa de comer nenhum churrasquinho?”, “qual é o corpo ideal para sair no Carnaval?”.
A ideia era colocá-los no mesmo lugar que ela se sentia ocupando desde que se entregou de vez ao Carnaval. Ela e um contingente de mulheres, nas avenidas do samba ou nas festas de rua. “É tudo sobre um sistema tolhendo o seu comportamento o tempo inteiro. E daí entra o seu corpo, entra o jeito como você age, a maneira como se senta, como fala, o quanto come, o que veste. E a verdade é que consegui conquistar muita coisa dentro desse sistema. Mas uma hora ele começou a me machucar e precisei dizer ‘não! Não aceito, não quero, não gostei!’.”
A partir de sua rebeldia, levantou-se uma Paolla que já não fala mais só por si, mas por aquelas que se sentem objetificadas, julgadas e diminuídas por serem mulheres. O movimento multiplicou as atenções sobre a atriz, que tornou-se uma porta-voz da liberdade feminina (são mais de 37 milhões de seguidores só no Instagram). Estava decidido: as manchetes medindo seu corpo e suas escolhas não mais a paralisariam como antes: “Eu não podia mais regular a mim mesma por conta do que o mundo pensava”.
Para Paolla, há nessa equação dois fatores fundamentais: o autoconhecimento que a própria história lhe trouxe e uma mudança importante na forma como as mulheres se colocam em nossa sociedade. “No fim, acho que a gente tá vivendo tempos, não ideais, mas melhores para nos sentirmos bem em nossas peles. Dizer isso aos quatro ventos é não só um jeito da coisa sedimentar em mim, mas uma chance de alcançar mais mulheres. Eu ainda fico muito emocionada quando ouço de uma mulher que ela aprendeu a amar o corpo dela porque me viu sendo feliz com o meu.”
A intensidade no pensamento e nas ações de Paolla são marcas de uma personalidade inconformada – uma “ariana que não abaixa a cabeça". Foi assim quando cansou de ter o corpo vigiado e assim quando não se curvou a ideia engessada de que “atrizes que se levam a sério não deveriam desfilar seminuas no Carnaval”. Ouviu “você vai se prejudicar! Uma mulher tão exposta assim não vai prestar. Vai perder a sua credibilidade e nunca será uma grande atriz. Vai ficar engavetada”.
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