Crise sem fim: Correios acumulam 12 trimestres de prejuízo e buscam saída para evitar insolvência

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Brasília – A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) vive um de seus momentos mais críticos. A estatal acumula 12 trimestres consecutivos de resultados negativos, com o prejuízo se agravando significativamente, e as causas para o rombo financeiro bilionário são múltiplas, envolvendo desde mudanças regulatórias e forte concorrência até o peso da função social de universalização dos serviços e o aumento de despesas.

O déficit se intensificou, especialmente, a partir de 2024. No primeiro semestre de 2025, o prejuízo líquido dos Correios disparou para R$ 4,37 bilhões, mais que o triplo do registrado no mesmo período do ano anterior. O quadro levou a própria estatal a acender o alerta de risco de “insolvência”.

As principais causas do prejuízo:

1. Impacto da “Taxa das Blusinhas” e Queda na Receita Internacional:

A implementação da nova política de tributação para compras internacionais de baixo valor (até US$ 50), conhecida popularmente como “taxa das blusinhas” ou “taxa da Shein”, é apontada pela própria gestão dos Correios como a principal responsável pelo aprofundamento da crise recente.

  • Menos Encomendas: A taxação (que inclui Imposto de Importação e ICMS) elevou o custo final para o consumidor, resultando na queda do volume de compras internacionais e, consequentemente, na redução das encomendas que passavam pela logística da estatal.
  • Frustração de Receita: A expectativa de arrecadação dos Correios com este segmento em 2024 não se concretizou, gerando uma perda bilionária. A receita com postagens vindas do exterior recuou drasticamente no primeiro semestre de 2025.

2. Concorrência e Universalização do Serviço:

A empresa atua em um mercado cada vez mais competitivo, principalmente no segmento de encomendas (e-commerce), onde perdeu espaço para transportadoras privadas ágeis e especializadas.

  • Perda de Mercado: Enquanto empresas privadas focam nas rotas mais lucrativas, os Correios, como estatal, são obrigados por lei a garantir a universalização dos serviços, atendendo a todas as localidades do país, inclusive as de baixa atratividade comercial (cerca de 71% das localidades, segundo a estatal, não geram lucro). Este compromisso social pressiona o caixa da companhia.
  • Declínio de Cartas: O monopólio da estatal (o serviço de cartas) continua em declínio constante devido à digitalização e ao uso de e-mail e aplicativos de mensagens.

3. Aumento das Despesas e Fatores de Custo:

O cenário de queda de receita foi agravado por um aumento substancial nos custos e despesas da estatal.

  • Custos Operacionais Elevados: Houve um salto nas despesas administrativas e financeiras.
  • Impacto Judicial (Precatórios): O aumento do pagamento de precatórios, devido a decisões judiciais desfavoráveis, especialmente em ações trabalhistas, contribuiu significativamente para o rombo.
  • Fatores Contábeis Antigos: Análises históricas apontam que a situação econômica-financeira da empresa foi abalada por mudanças nos critérios contábeis (como o provisionamento para despesas com pós-emprego), congelamento de tarifas e recolhimento excessivo de dividendos em períodos passados.

O que está sendo feito para reverter o cenário?

Diante do risco de insolvência, a administração dos Correios e o Governo Federal buscam soluções emergenciais:

  • Teto de Gastos e Contingenciamento: Foi estabelecido um teto de gastos e adotadas medidas de contenção, como a suspensão de novas contratações terceirizadas e a renegociação de contratos.
  • Busca por Empréstimo: A estatal negocia um empréstimo bilionário (estimado em R$ 20 bilhões) com bancos públicos e privados para reestruturação, quitação de passivos mais caros e investimentos em modernização.
  • Novas Receitas: Os Correios buscam ampliar sua atuação no segmento de e-commerce, com o lançamento de um marketplace próprio, o “Mais Correios”, na tentativa de gerar novas fontes de receita.

Apesar dos esforços, o governo descarta, no momento, a privatização da empresa, e a previsão de recuperação total, segundo a própria gestão, só deve ocorrer a longo prazo, em 2027.

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