Etanol de Milho: De Coadjuvante a Protagonista na Matriz Energética Brasileira
O Brasil, historicamente reconhecido como líder mundial na produção de etanol de cana-de-açúcar, assiste a uma revolução silenciosa no seu setor de biocombustíveis. O etanol de milho deixou de ser uma alternativa marginal para se consolidar como um pilar estratégico, impulsionando a oferta de combustíveis, gerando renda e diversificando o agronegócio, especialmente nas regiões Centro-Oeste.
A Expansão Acelerada
Os números são a prova cabal dessa transformação. A produção de etanol a partir do milho saltou exponencialmente nos últimos anos. Impulsionado por investimentos bilionários e pelo aumento da produção de milho de segunda safra (safrinha), o Brasil projeta que a participação do biocombustível de cereal no total de etanol produzido no país continuará crescendo, com previsões de que a oferta possa igualar o patamar do etanol de cana até 2034.
A União Nacional do Etanol de Milho (UNEM) estima que a produção, concentrada em estados como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, mas já se expandindo para outras regiões, está se tornando um fator de estabilidade no mercado.
A Vantagem da Produção Contínua
A principal diferença competitiva do etanol de milho reside na sua flexibilidade industrial. Diferentemente da cana-de-açúcar, cuja colheita é sazonal (entre abril e novembro), o milho é uma cultura anual que, por ser facilmente armazenável, permite que as usinas operem praticamente o ano todo.
Essa produção contínua atenua a sazonalidade da oferta de etanol no mercado, ajudando a garantir o abastecimento e a reduzir a volatilidade dos preços, um benefício direto para o consumidor na bomba. As usinas que combinam as duas matérias-primas (modelos Flex ou Full Flex) maximizam o uso de sua capacidade instalada, garantindo etanol o ano inteiro.
Integração no Agronegócio: O Aproveitamento Total
Outro fator crucial é o modelo de aproveitamento total do grão. Na produção do etanol de milho, são gerados valiosos coprodutos, como:
- DDGS e DDG (Grãos Secos de Destilaria): Ricos em proteínas, são amplamente utilizados na nutrição animal (bovinos, suínos e aves), agregando valor à cadeia do milho e impulsionando o setor de rações.
- Óleo de Milho: Matéria-prima para a produção de biodiesel.
Essa cadeia integrada é um motor de desenvolvimento para o agronegócio, pois transforma o milho que antes era majoritariamente exportado in natura em produtos de maior valor agregado, gerando empregos e riqueza no interior do país.
Desafios e o Futuro Sustentável
Apesar do crescimento inegável, o etanol de milho enfrenta desafios. O processo de conversão do amido em açúcar antes da fermentação é mais complexo e pode consumir mais energia em comparação com o etanol de cana, que já possui açúcares fermentáveis.
No entanto, o setor brasileiro está buscando aprimoramentos. Muitas usinas utilizam biomassa para gerar a energia necessária para o processo, reduzindo a pegada de carbono. Além disso, o milho utilizado é predominantemente o de segunda safra, plantado após a soja, o que minimiza a competição por terras com a produção de alimentos, um contraste com o modelo norte-americano.
Com o amparo de políticas públicas como o RenovaBio (que reconhece a baixa intensidade de carbono do etanol brasileiro) e a perspectiva de transformar o etanol em SAF (Combustível Sustentável de Aviação), o etanol de milho consolida o Brasil como uma potência em biocombustíveis, mostrando que a diversificação é o caminho para a segurança energética e a sustentabilidade.



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