Montadoras Tradicionais Contra BYD: Disputa Por Incentivos Agita o Setor Automotivo no Brasil
Um embate de gigantes está agitando o setor automotivo brasileiro. As quatro maiores montadoras do país – Volkswagen, General Motors (GM), Toyota e Stellantis – uniram forças e enviaram uma carta conjunta ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), manifestando forte descontentamento com um pedido da chinesa BYD que, segundo elas, ameaça investimentos, empregos e a soberania industrial nacional.
O Pedido da BYD e a Preocupação das Tradicionais
A polêmica gira em torno de uma solicitação da BYD ao governo federal para reduzir as tarifas de importação de kits de veículos em CKD (Completely Knocked Down) e SKD (Semi Knocked Down). A empresa chinesa, que recentemente inaugurou sua fábrica em Camaçari (BA), pleiteia que as taxas atuais (18% para elétricos e 20% para híbridos) sejam reduzidas para 5% e 10%, respectivamente. A BYD argumenta que essa medida seria fundamental para estimular o segmento de carros eletrificados no Brasil, especialmente no seu primeiro ano de operação, quando atuará majoritariamente na montagem de peças importadas.
No entanto, para as montadoras já estabelecidas, essa proposta representa um risco iminente. Na carta enviada ao presidente Lula, as gigantes do setor alertam que:
- A importação de conjuntos de peças e partes (SKD/CKD) não seria uma fase de transição para uma industrialização plena, mas sim um “padrão operacional que tenderá a ser consolidado e prevalecer”, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional.
- Isso resultaria em um “legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica”.
- Os R$ 180 bilhões em investimentos que a indústria planeja para os próximos anos no Brasil estariam em risco, caso a previsibilidade das regras seja alterada para favorecer um modelo de montagem com baixo conteúdo local.
O Grito da Indústria de Autopeças e Associações
O protesto das grandes montadoras ecoa o posicionamento de importantes associações do setor. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a Abipeças (Associação Brasileira da Indústria de Autopeças) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) também criticaram o pedido da BYD.
Essas entidades defendem a antecipação da volta do imposto de importação integral para modelos eletrificados importados (a alíquota cheia de 35% está prevista para 2026, com aumentos graduais antes disso). O argumento é que a redução das tarifas para kits SKD/CKD, que envolvem pouca fabricação local e, consequentemente, baixa geração de empregos e demanda por fornecedores brasileiros, seria prejudicial à indústria nacional e aos empregos.
O Dilema do Governo Lula
A situação coloca o governo federal em um dilema. De um lado, há o interesse em atrair novos investimentos e empresas, como a BYD, que prometem impulsionar a eletrificação da frota e gerar empregos (a fábrica da BYD na Bahia, por exemplo, é um investimento de R$ 5,5 bilhões e tem o apoio do governador Jerônimo Rodrigues). De outro, a necessidade de proteger a indústria automotiva já estabelecida, que representa um volume massivo de investimentos e empregos no país.
A expectativa em Brasília é de um intenso debate sobre o tema. A decisão final do governo terá um impacto significativo no futuro da indústria automotiva brasileira, definindo se o país priorizará a atração de montadoras com modelos de produção mais simplificados ou se manterá o foco no fortalecimento de uma cadeia produtiva local robusta e geradora de empregos de alta qualidade.
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