Os vermífugos são pilares essenciais na sanidade e produtividade da pecuária no Brasil. No agronegócio, o controle de parasitas internos (vermes gastrintestinais, pulmonares, hepáticos) é crucial, pois infestações elevadas causam grandes perdas econômicas, impactando diretamente o ganho de peso, a produção de leite, a fertilidade e a saúde geral do rebanho.
Vermífugos na Pecuária: Tipos e Aplicações
O mercado agropecuário oferece uma vasta gama de produtos, adaptados a diferentes espécies e tipos de parasitas. A escolha do princípio ativo, da formulação e da via de aplicação deve ser sempre guiada por um médico-veterinário.
1. Bovinos (Gado de Corte e Leite)
O controle de verminose em bovinos é um dos mais complexos devido ao pastejo e à dinâmica do parasita na pastagem.
Classe Química | Princípios Ativos Comuns | Vias de Aplicação | Alvos Principais |
Lactonas Macrocíclicas | Ivermectina, Doramectina, Moxidectina | Injetável, Pour-on (tópico), de Cocho | Vermes internos, mas também carrapatos, bernes, moscas (endectocidas). |
Benzimidazóis | Albendazol, Sulfóxido de Albendazol, Fembendazol | Oral (líquido ou pasta), de Cocho | Vermes redondos, chatos (tênias) e Fasciola hepatica (Fascíola). |
Imidazotiazóis | Levamisole | Injetável, Oral | Vermes redondos e pulmonares. |
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Destaques:
- Endectocidas (Ivermectina e derivados): São muito populares porque combatem tanto parasitas internos quanto externos. No entanto, o uso excessivo levou a uma ampla resistência dos vermes a esta classe no Brasil.
- Vermífugo de Cocho: Misturado ao sal ou suplemento mineral, é uma forma prática de vermifugação contínua, visando reduzir o manejo e o estresse dos animais.
2. Suínos e Aves
Nestas criações, o controle é frequentemente feito através da água de bebida ou misturado à ração, visando a praticidade do manejo de grandes lotes.
- Suínos: O foco é no controle de vermes gastrointestinais como o Ascaris suum. Princípios ativos como o Mebendazol e o Fembendazol (Benzimidazóis) são comuns, sendo misturados à ração. A Ivermectina também é usada para controle de parasitas internos e externos (como sarna).
- Aves (Galinhas, Perus, Pombos): O tratamento mira parasitas como Ascaridia galli e Heterakis gallinarum. O Mebendazol é um dos anti-helmínticos de amplo espectro mais usados, administrado na ração por um período de dias consecutivos.
O Desafio Crítico: A Resistência Parasitária
O principal desafio da sanidade no agronegócio é a crescente resistência dos parasitas aos vermífugos. O uso indiscriminado, subdosagem (doses insuficientes) ou o uso frequente do mesmo princípio ativo levam à seleção de vermes mais fortes, tornando o medicamento ineficaz.
No Brasil, a resistência às Avermectinas (como Ivermectina) já é amplamente observada, exigindo uma mudança urgente nas estratégias de controle.
Estratégias para o Controle Racional (Vermifugação Estratégica)
Para prolongar a vida útil dos medicamentos e garantir a eficiência do rebanho, os produtores devem adotar o Controle Estratégico em vez do controle supressivo (uso de vermífugo em intervalos fixos, sem considerar a real necessidade do animal).
1. Diagnóstico e Monitoramento
- OPG (Ovos por Grama de Fezes): É o exame laboratorial que quantifica a infestação em uma amostra de fezes, permitindo avaliar a eficácia do vermífugo e monitorar o nível de contaminação do rebanho.
- Teste de Redução do OPG: Essencial para determinar se o vermífugo escolhido ainda é eficaz na propriedade (eficácia abaixo de 95% indica resistência).
- Método FAMACHA® (Em ovinos/caprinos): Avaliação clínica da coloração da mucosa ocular para determinar o grau de anemia e tratar apenas os animais mais necessitados (tratamento seletivo).
2. Uso Estratégico e Racional
- Tratamento Seletivo: Vermifugar apenas os animais que realmente precisam, em vez de todo o rebanho.
- Rotação de Princípios Ativos: Alternar o uso de vermífugos de diferentes classes químicas, e não apenas de marcas.
- Vermifugação em Épocas-Chave: Em bovinos, a vermifugação estratégica geralmente foca no período de transição entre a seca e as chuvas, visando reduzir a contaminação da pastagem na estação mais quente (verão), quando a proliferação de larvas é máxima.
3. Manejo Integrado da Pastagem
A melhoria do manejo é a forma mais sustentável de controle:
- Descanso e Rotação de Pastagens: Aumentar o período de descanso dos piquetes ajuda a diminuir a quantidade de larvas viáveis no capim.
- Pastoreio Misto: Utilizar espécies diferentes (ex: bovinos e equinos, ou bovinos e ovinos) na mesma pastagem, pois os parasitas de uma espécie não se desenvolvem na outra, “limpando” o pasto.
- Nutrição Animal: Animais bem nutridos desenvolvem maior resistência natural aos parasitas.
Atenção: Qualquer programa de vermifugação deve ser elaborado e supervisionado por um Médico-Veterinário, que irá considerar a categoria animal, a sazonalidade, o histórico da propriedade e os dados de eficácia dos produtos.
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