VASSOURA-DE-BRUXA

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Vassoura-de-Bruxa: A Praga que Devastou o Cacau e Mudou o Mapa Agrícola do Brasil

A Vassoura-de-Bruxa é, sem dúvida, um dos eventos mais dramáticos e impactantes da história agrícola brasileira. Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa (anteriormente conhecido como Crinipellis perniciosa), esta doença devastadora atingiu a cultura do cacaueiro, principalmente na Bahia, e redefiniu a economia de uma das regiões mais prósperas do país.


O Que É a Vassoura-de-Bruxa?

A Vassoura-de-Bruxa é uma doença fúngica que ataca as regiões de crescimento ativo (meristemas) da planta, incluindo brotos, ramos e, crucialmente, os frutos.

O fungo se caracteriza por induzir um crescimento anormal e desordenado nos tecidos infectados, levando à formação de estruturas que se assemelham a “vassouras” ou “ninhos” de galhos secos e deformados – daí o nome popular.

Sintomas Chave na Plantação:

  • Ramos: Os brotos novos apresentam intumescimento e superbrotamento, com internódios reduzidos e perda da dominância apical, formando a “vassoura” verde. Posteriormente, esses tecidos morrem e secam, tornando-se necróticos.
  • Frutos: Os frutos infectados, ainda jovens, ficam deformados, duros, amadurecem prematuramente e apresentam lesões escuras. O fruto é a parte mais crítica, pois é onde o fungo produz seus esporos para se dispersar e mumifica, perdendo totalmente o valor comercial.

O Impacto Histórico e Econômico

Embora fosse endêmica da Amazônia, a doença se espalhou para a região sul da Bahia (a principal produtora de cacau no Brasil) no final da década de 1980. O impacto foi catastrófico:

  • Queda na Produção: Em poucos anos, a produção brasileira de cacau foi dizimada. O Brasil, que já foi o segundo maior exportador mundial, passou a ser um importador do produto.
  • Crise Social e Econômica: A devastação levou à falência grandes e pequenos produtores. A crise gerou desemprego em massa, êxodo rural e um aumento da miséria urbana nas cidades dependentes do cacau, como Ilhéus e Itabuna.
  • Mudança no Mapa do Cacau: A Bahia perdeu sua primazia, e o estado do Pará ascendeu como o novo principal produtor nacional, devido à menor incidência da doença em suas regiões de cultivo e à adoção de novas tecnologias.

O Manejo Integrado: A Luta Contra a Praga

Após o colapso, a pesquisa agrícola e os produtores uniram forças para encontrar soluções, adotando o Manejo Integrado de Doenças (MID):

  1. Controle Cultural (Poda Fitossanitária): É a medida mais essencial. Consiste na remoção e destruição (geralmente por queima) de todos os ramos e frutos infectados. A poda deve ser feita de forma constante e rigorosa para eliminar a fonte de esporos do fungo.
  2. Controle Genético: O desenvolvimento e uso de variedades de cacaueiros geneticamente resistentes ou tolerantes à doença é a estratégia de longo prazo mais eficaz.
  3. Controle Químico: O uso de fungicidas, como os à base de cobre ou tebuconazole, é empregado de forma seletiva, principalmente no início da floração e frutificação, para proteger os tecidos mais suscetíveis.
  4. Pesquisa Contínua: A ciência continua buscando entender o ciclo do fungo – que possui uma fase biotrófica (vive no tecido vivo) e uma necrotrófica (se alimenta do tecido morto) – para desenvolver defesas mais sofisticadas.

A Vassoura-de-Bruxa permanece como um lembrete severo da vulnerabilidade das monoculturas. A experiência forçou a cacauicultura brasileira a se modernizar, investindo em ciência, manejo e diversificação, garantindo a retomada lenta e gradual da produção, agora sob uma vigilância fitossanitária muito mais rigorosa.

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