Foragido em Miami, Ramagem desafia Moraes a pedir extradição e diz ter “anuência” de Trump para ficar nos EUA
Ex-chefe da Abin, condenado a 16 anos pelo STF, rompe o silêncio, chama ministro de “tirano” e afirma que não voltará ao Brasil para cumprir pena.
Por Luís Ricardo Garcia Sapia
MIAMI, EUA – O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), considerado foragido pela Justiça brasileira, elevou o tom do confronto contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Em vídeo divulgado neste fim de semana, diretamente de Miami, Ramagem desafiou o ministro Alexandre de Moraes a formalizar o pedido de extradição ao governo dos Estados Unidos, garantindo estar “seguro” e sob a proteção política da administração republicana.
A declaração ocorre dias após o STF condená-lo a mais de 16 anos de prisão por participação na trama golpista e decretar a perda de seu mandato parlamentar.
“Mande o Pedido”
Sem demonstrar intenção de se entregar, Ramagem adotou uma postura de enfrentamento. “É só mandar formalmente para cá e esperar a declaração da maior nação livre do mundo”, provocou o ex-diretor da Abin, sugerindo que o pedido brasileiro seria negado pela Casa Branca.
Ramagem argumenta que é vítima de perseguição política, uma tese que sua defesa pretende usar para barrar qualquer tentativa de extradição. Pela lei internacional, crimes considerados políticos geralmente não justificam extradição, e é exatamente nessa brecha – somada à proximidade ideológica com o governo Donald Trump – que ele aposta para evitar a prisão.
A Rota de Fuga
A Polícia Federal (PF) já mapeou que a saída do deputado do Brasil não foi convencional. Com o passaporte retido, Ramagem teria deixado o país em setembro, por via terrestre, cruzando a fronteira de Roraima rumo à Guiana ou Venezuela, antes de voar para a Flórida.
Para o STF, a manobra configura uma clara “evasão para frustrar a aplicação da lei penal”. Moraes já determinou que a PF acione a Difusão Vermelha da Interpol, o que coloca Ramagem na lista de procurados internacionais, restringindo sua movimentação para outros países.
O Fator Trump
A grande aposta de Ramagem é a blindagem política. Ele afirmou ter a “ciência e anuência” de autoridades ligadas a Donald Trump sobre sua presença no país. Se confirmada, essa proteção criaria um impasse diplomático grave entre Brasília e Washington, testando os limites da cooperação jurídica entre os dois países.
Enquanto isso, em Brasília, a Câmara dos Deputados foi notificada oficialmente por Moraes sobre a perda do mandato. O clima no Congresso é de perplexidade, com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (também condenado) vendo na atitude de Ramagem um “tudo ou nada” que pode ditar os próximos capítulos da crise.
O vídeo abaixo analisa a estratégia de defesa de Ramagem e as chances reais de o Brasil conseguir trazê-lo de volta: Análise: Ramagem diz ter apoio de Trump para permanecer nos EUA
A situação cria um precedente complexo: um condenado pelo Supremo desafiando a Corte a partir de solo americano, apostando que a política externa dos EUA vai se sobrepor aos tratados de extradição.
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