O Resgate e a Valorização da Criação de Mulas: O Muar de Elite
A criação de muares – que engloba as fêmeas, as mulas, e os machos, os burros – é uma atividade zootécnica com profundas raízes na história e no desenvolvimento do Brasil. Longe de ser apenas uma prática tradicional, o mercado de muares vive um momento de crescimento e valorização, com animais de elite atingindo cifras expressivas em leilões.
O Que é a Mula? Uma União Híbrida de Excelência
A mula e o burro são, cientificamente, híbridos – produtos do cruzamento entre duas espécies distintas do gênero Equus (a mesma dos cavalos e jumentos), resultando em um animal com características únicas:
- Cruzamento Padrão: A criação mais comum e valorizada é o cruzamento de um Jumento (macho da espécie Equus asinus) com uma Égua (fêmea da espécie Equus caballus). O filhote é a Mula (fêmea) ou o Burro (macho).
- Hibridismo e Esterilidade: Por terem um número ímpar de cromossomos (63, resultado da soma de 62 do jumento com 64 do cavalo), os muares são, em regra, estéreis. Isso faz com que sua produção dependa exclusivamente do cruzamento entre jumentos e éguas.
- Bardoto: O cruzamento inverso (Cavalo com Jumenta) também é possível, mas menos frequente, gerando o Bardoto.
Resistência, Inteligência e Longevidade: As Qualidades do Muar
A principal razão para a valorização da mula reside em suas características físicas e comportamentais superiores, que combinam o melhor de seus genitores:
- Resistência e Robustez: Herdada do jumento, a mula é extremamente resistente à fadiga, a doenças e tem alta adaptabilidade a climas quentes e terrenos acidentados. Por isso, foram amplamente utilizadas no tropeirismo e no transporte de cargas em topografias difíceis.
- Inteligência e Docilidade: O muar é conhecido por sua grande inteligência e por uma índole dócil (quando bem manejado), o que facilita a lida no campo.
- Vida Longa: Sua longevidade é notável, podendo trabalhar por mais de 35 anos.
A Criação Moderna: Foco na Marcha e na Elite
Se no passado os muares eram essenciais para a tração e o trabalho pesado (lida com o gado, puxar carroças, etc.), hoje, a criação de elite foca em animais para:
- Provas e Concursos de Marcha: Mulas e burros com morfologia, andamento e marcha de excelência competem em eventos especializados, como o Encontro Nacional de Muladeiros, movimentando um mercado de alto valor.
- Lazer e Romarias: A docilidade e resistência tornam-nos ideais para cavalgadas longas e romarias.
Tecnologia no Cruzamento: Os criadores investem na seleção genética, utilizando jumentos reprodutores de raças consagradas, como o Jumento Pêga – uma raça brasileira reconhecida por seu porte e qualidade de marcha. O cruzamento com éguas de raças marchadoras, como a Mangalarga Marchador ou Mangalarga, visa aprimorar a qualidade do produto final. Muitos criadores utilizam a inseminação artificial e o envio de sêmen para otimizar os cruzamentos.
Manejo Simples, Alto Retorno
O manejo de mulas e burros é considerado relativamente simples e de bom custo-benefício.
- Alimentação: Consiste em pasto, capim, ração balanceada e feno.
- Cuidados: A rotina exige atenção sanitária e o acompanhamento veterinário, mas a resistência do muar se traduz em menos gastos com saúde em comparação com cavalos.
- Valor de Mercado: Um muar de trabalho pode custar a partir de R$ 6 mil, mas um exemplar de elite, com premiações e genética apurada, pode ter seu valor inflacionado, chegando a centenas de milhares de reais em leilões.
A paixão pela criação de muares, a resistência e o valor histórico desses animais garantem que, mesmo na era da tecnologia, a mula e o burro continuem sendo peças importantes e valiosas do agronegócio e da cultura equestre brasileira.



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