Brasília
Candidato da oposição à presidência deixa Venezuela e é exilado na Espanha
Num comunicado nas redes sociais, o governo de Nicolás Maduro anunciou na noite deste sábado (7) que o candidato da oposição para a presidência, Edmundo Gonzalez, deixou a Venezuela e pediu asilo na Espanha.
Ele era alvo de uma ordem de prisão por parte do regime.
O governo da Espanha também confirmou a saída do opositor e aguardo o pouso do avião que transporta o exilado na manhã deste domingo.
A negociação para a fuga do opositor começou há dias, com o envolvimento e mediação sigilosa de José Luiz Zapatero, ex-presidente do governo da Espanha.
Enquanto o processo era discutido, um avião oficial do governo espanhol o aguardava na República Dominicana.
Neste sábado, diante do acordo com Caracas, o avião pousou na capital venezuelana para retirar o candidato do país.
Gonzalez estava sendo mantido na embaixada da Espanha em Caracas.
Mas a ofensiva de Maduro contra a embaixada da Argentina, onde estão outros seis opositores, apressou a operação de fuga do candidato.
Foi o próprio governo Maduro que anunciou sua saída, na tentativa de mostrar que havia cedido para garantir “a paz” no país.
“Hoje, em 7 de setembro, o cidadão da oposição Edmundo González Urrutia, que foi refugiado voluntário na embaixada da Espanha em Caracas por vários dias, solicitou asilo político ao governo espanhol”, escreveu a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez.
Ela ainda explicou que seu governo permitiu que ele deixasse a embaixada e fosse transportado até um aeroporto, sem ser preso.
“A esse respeito, uma vez que os contatos relevantes entre os dois governos foram realizados, e uma vez que todos os detalhes do caso foram concluídos e de acordo com o direito internacional, a Venezuela concedeu o devido salvo-conduto no interesse da paz e tranquilidade política do país”, informou.
Segundo ela, “essa conduta reafirma o respeito à lei que tem prevalecido nas ações da República Bolivariana da Venezuela na comunidade internacional”.
O governo espanhol explicou que Edmundo González “decolou de Caracas para a Espanha em um avião da Força Aérea Espanhola”.
“O governo da Espanha forneceu os meios diplomáticos e materiais necessários para sua transferência, realizada a seu pedido”, indicou.
Madri ainda reiterou “seu compromisso com os direitos políticos e a integridade física de todos os homens e mulheres venezuelanos, especialmente dos líderes políticos”.
José Manuel Albarez, chefe da diplomacia da Espanha, explicou que a viagem foi um “pedido” do próprio opositor.
A saída do país do candidato assegura sua proteção.
Mas coloca em questão a capacidade de um processo de mediação continuar, diante da ausência do líder da oposição no país.
Para seus aliados, a eleição marcou a derrota de Maduro, que jamais apresentou as atas com os resultados detalhados.
Ordem de prisão
Na semana passada, a Procuradoria-Geral em Caracas anunciou um pedido de prisão do candidato opositor de Nicolás Maduro nas eleições de julho.
Horas depois, um tribunal de primeira instância acatou a solicitação.
A ordem de captura mudou de forma dramática qualquer perspectiva de uma mediação liderada pelo Brasil.
Fontes diplomáticas de diferentes governos confirmaram a reportagem que, se efetuada, a prisão colocaria uma pressão ainda mais intensa da comunidade internacional sobre o governo de Nicolás Maduro.
Maria Corina Machado, líder da oposição, denunciou o gesto, alertando que Maduro havia perdido “toda a noção da realidade”.
“Ao ameaçar o presidente eleito, apenas conseguem que nos unamos ainda mais e que haja um aumento do apoio dos venezuelanos e do mundo a Edmundo González”, disse a opositora.
O documento que solicita a prisão, menciona crimes de conspiração e sabotagem ao sistema.
Um das principais críticas por parte da ONU ao governo de Maduro é o seu controle de todo o sistema judiciário, incluindo a Procuradoria e cortes.
Maduro, dias depois da eleição, havia defendido a prisão tanto de González como de Corina Machado.
Agora, seu sistema judicial colocou em andamento o processo.
Além do pedido de prisão do opositor, a repressão de Maduro deteve mais de 2.000 pessoas nas últimas semanas, segundo a ONU.
Edmundo González, segundo a denúncia, é alvo de uma investigação que apura a disseminação de informações por parte do site “Resultados com VZLA”, responsável por divulgar dados sobre a eleição.
Maduro anunciou que foi o vencedor do pleito, mas nunca divulgou as atas das sessões eleitorais. González, por sua vez, também declarou ter vencido.
O pedido de prisão ocorre depois que o opositor se fez ausente ao ser convocado pela terceira vez pela Justiça venezuelana.
A última convocação não respeitada foi na última sexta-feira.
Ele responderia por usurpação de funções, falsificação de documento público, instigação à desobediência às leis, associação para cometer um crime e conspiração.
No site mantido pelos grupos de oposição, os resultados mostram que González venceu a eleição, a partir de uma amostra de atas.
A ONU considerou que as atas obtidas eram verídicas, assim como a União Europeia.