Brasília
Coluna do Ricardo Viveiros
CRESCE A VIOLÊNCIA NO BRASIL
A violência no Brasil, que antes se concentrava em contextos
específicos, ganhou novos contornos nos últimos anos. A partir da
ascensão de movimentos de extrema-direita que a campanha e, mais
ainda, a eleição de Jair Bolsonaro deram palco e luz, o país entrou em
uma fase de polarização aguda, onde a intolerância deixou de ser um
fenômeno apenas político para se espalhar por outros setores da vida
cotidiana. No trânsito, nos estádios de futebol, nas residências e até
mesmo nas interações cotidianas no trabalho, escolas, praças o ódio
tornou-se uma presença crescente, ameaçando o tecido social
brasileiro.
A violência no trânsito é um exemplo claro. Casos emblemáticos,
como o do motorista de um carro de luxo que matou um motoboy por
um choque no espelho do carro, ganham as manchetes e refletem
uma crescente impaciência e desrespeito às leis de convivência.
Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) mostram
um aumento significativo de mortes no trânsito nos últimos anos,
muitas das quais motivadas pela agressividade, pela imprudência e
pelo preconceito social. O perfil de vítimas e agressores revela, em
muitos casos, uma divisão de classes e uma falta de empatia por
parte dos motoristas de veículos de luxo.
Esse mesmo espírito de confrontação é evidente nos estádios de
futebol, onde torcedores de diferentes clubes transformam as
arquibancadas e os arredores em arenas de violência. O ano de 2023,
por exemplo, registrou um número alarmante de mortes e agressões
nas brigas entre torcidas organizadas. O Observatório da Violência no
Futebol (OVF) revelou que as mortes relacionadas a confrontos entre
torcedores aumentaram em cerca de 30% nos últimos anos, levando
a uma onda de pedidos por medidas mais rígidas de segurança e
punições.
Assim como os regimes autoritários do passado, a ultradireita se vale
do discurso de ódio e da desumanização do adversário político, que
considera inimigo, para manter sua base de apoio mobilizada. No
caso brasileiro, essa retórica violenta não se restringe à esfera
política, mas permeia todas as esferas da sociedade. E a crescente
onda de violência alcança outras parcelas da sociedade, atingindo
mulheres, pretos, LGBTQIA+, imigrantes, indígenas – enfim, seres
humanos que merecem nosso respeito.
Ao agir com arrogância e desdém por valores como respeito e ética,
os radicais não apenas aumentam o número de conflitos diretos, mas
também legitimam um comportamento agressivo que desestabiliza as
relações sociais.
Como nos ensina a história, os regimes autoritários muitas vezes se
valem da violência como meio de controle. Na atual conjuntura, as
autoridades brasileiras precisam refletir sobre o papel que cumprem
ao não combaterem a violência com rigor e sobre o tipo de país que
desejam construir. A violência não é um indicador de avanço, mas de
retrocesso. Ao ignorar os direitos humanos e incitar a intolerância, o
Brasil corre o risco de se tornar refém de uma escalada de ódio que
ameaça tanto a segurança pública quanto a dignidade de seus
cidadãos.
A ultradireita não é apenas perigosa; é também ineficaz e
contraproducente. Em vez de oferecer soluções para os problemas
reais do país, ela aposta em uma política de divisão que enfraquece a
nação. E, como observou Norberto Bobbio, o uso indiscriminado da
violência é uma arma que, no longo prazo, tende a virar-se contra
aqueles que a manejam. Combater a violência exige não apenas
políticas públicas eficazes, mas também uma sociedade disposta a
dialogar e respeitar as diferenças.