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Brasil

De sobrevivente à atleta paralímpica: conheça a história de Ana Marques

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Moradora da capital federal há 11 anos, ela é a gaúcha mais brasiliense da delegação verde-amarela nos Jogos Paralímpicos.

Trajetória no esporte passou pela vela antes da jornada no levantamento de peso.

O apelido de Ana Gaúcha não esconde o vínculo com o estado onde nasceu, o Rio Grande do Sul.

Entretanto, o Distrito Federal foi, aos poucos, tomando conta do coração de Ana Paula Marques.

Moradora da capital federal há 11 anos, orgulha-se de ser multicampeã mundial de vela.

Um dos desejos no esporte era representar tanto o quadradinho quanto Porto Alegre nos Jogos Paralímpicos.

A modalidade, porém, foi retirada do programa a partir de Tóquio-2020.

Apesar dos pesares, o sonho se tornará realidade em Paris-2024, mas no halterofilismo.

Aos 20 anos, sobreviveu a uma tentativa de feminicídio cometida pelo ex-marido.

Inconformado pelo término do relacionamento, sacou uma arma de fogo e disparou dois tiros nas costas da jovem.

Paraplégica em decorrência da agressão, a gaúcha teve Brasília como escala frequente durante o processo de reabilitação, no Hospital Sarah Kubitschek, onde também teve os primeiros contatos com o paradesporto.

“O esporte salvou a minha vida, me livrou de entrar em depressão e querer desistir de tudo.

Foi algo que me trouxe de volta, após um episódio que transformou minha vida.

Um dia eu pegava condução, andava para cima e para baixo e, depois, tive limitações com a deficiência.

Mas o esporte me mostrou que a vida continuava e que mesmo na cadeira de rodas eu poderia seguir”.

Ana resolveu se mudar para o DF por influência de um amigo atleta, que a recomendou clubes paralímpicos para inseri-la no alto rendimento.

Na busca pela modalidade que faria o coração bater mais forte, tentou basquete, corrida de cadeira de rodas, aventurou-se no tiro com arco e na natação até encontrar o grande amor: a vela.

Após iniciar os treinos em 2014, a gaúcha frequentou campeonatos e viu os resultados aparecerem, com direito ao reconhecimento de conduzir a Tocha Paralímpica nos Jogos do Rio-2016.

O primeiro pódio foi em 2017, com prata no Mundial da Holanda, mas o ápice foi na edição seguinte, quando se tornou a primeira brasileira campeã mundial de vela adaptada.

Enquanto mantinha o preparo, as visitas à academia a levaram a outra paixão: o levantamento de peso.

“A vela pede muito condicionamento físico, porque são várias regatas em dias consecutivos.

Nisso, conheci o halterofilismo como esporte, em 2016.

Comecei a treinar para isso, fui tendo bons resultados e peguei gosto”, detalha Ana.

A escolha de competir nos Jogos Paralímpicos no halterofilismo também passa pela retirada da vela do programa paralímpico.

A modalidade nas águas foi considerada como sem alcance internacional suficiente para justificar a permanência.

Então, Ana, mesmo sendo a terceira no ranking internacional, sequer teria a chance de participar do megaevento.

Ainda assim, as duas modalidades têm lugar no coração da atleta.

“Me apaixonei na primeira vez que velejei, é o que eu mais amo fazer, mas o halterofilismo é uma paixão diferente.

Hoje, deixei a vela mais como um hobby, até porque o halterofilismo me deu condições melhores financeiramente e também pela situação das Paralimpíadas.

É difícil ter que escolher um, acho que os dois me completam”, relata.

O peso do sonho

A preparação para garantir um lugar em Paris começou em 2022.

Mesmo com o ciclo mais curto, pois Tóquio-2020 aconteceu em 2021, devido à pandemia de covid-19, Ana só entrou na classificação internacional faltando dois anos para a atual edição.

Apesar de treinar há mais tempo, novos atletas como ela não tinham ranking, pois não podiam entrar nas competições.

A oportunidade surgiu em 2022, quando abriram novas inscrições, e a gaúcha abraçou.

Tornou-se a brasileira mais alta na classificação da categoria até 55kg e conseguiu entrar na nota de corte paralímpico, para as 10 melhores.

Ciente do que passou, dosa as expectativas, mas se permite sonhar.

“Meu maior objetivo é subir no ranking.

Eu me classifiquei na 7ª posição, a meta é entrar no top-5.

Quem sabe vem algo melhor, não dá para deixar de mirar alto.

Como aqui todo mundo começa do zero, sem vantagem para ninguém, tudo pode acontecer”, analisa.

Embora não abra mão das raízes do Rio Grande do Sul, a gaúcha se considera uma brasiliense de coração.

“Lá é muito frio, chega dói, em Brasília é melhor (risos).

Não penso em voltar para o Sul, nem no futuro, quero ficar em Brasília, com certeza.

Hoje posso dizer que me sinto brasiliense”, discursa.

Em Paris, pode garantir a terceira medalha do Brasil na modalidade e repetir Mariana D’Andrea (ouro em Tóquio-2020) e Evânio da Silva (prata no Rio-2016).

A jornada de Ana começa em 5 de setembro.