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Sérgio Cabral escreveu musicais e biografias que foram base de espetáculos
Jornalista, que foi autor de obras sobre Tom Jobim, Elizeth Cardoso e Nara Leão, tinha 87 anos
A saída de cena do jornalista, pesquisador, cronista e biógrafo Sérgio Cabral (1937-2024) na manhã de ontem, 14, calou uma das principais vozes da história do futebol e da música popular do Brasil. Morto aos 87 anos após três meses de internação, Cabral foi figura essencial no processo de valorização da memória das canções produzidas entre o final do século 19 até metade do século 20, principalmente em seu Rio de Janeiro natal.
A despeito de ter ficado conhecido pelo público mais jovem como o pai do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho, preso após envolvimento em escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro, Sérgio Cabral teve carreira tão múltipla quanto exitosa, a ponto de parte de sua obra ter sido usada para inspirar musicais biográficos e ter sido ele próprio autor de dois espetáculos que foram fenômenos de público e crítica no final da década de 2000.
Seu livro Nara Leão – Uma Biografia foi o ponto de partida para que o também jornalista Christovam Chevalier idealizasse espetáculo biográfico que seria levado à cena em 2018 com texto assinado por Hugo Sukman e Marco França. Nara – A Menina Disse Coisas era obra tão direta e potente quanto o discurso e a vida de Nara Leão (1942-1989).
Aconteceu parecido com Elizeth Cardoso, Uma Vida , livro publicado em 1993 com a história de vida da cantora Elizeth Cardoso (1920-1990), e que rendeu nada menos do que dois musicais. O primeiro em 2008, Divina Elizeth , estrelado pela atriz e cantora Beatriz Rabello, filha de Paulinho da Viola, enquanto o segundo, dez anos depois, Elizeth, A Divina , dirigido por Sueli Guerra e estrelado e roteirizado por Izabella Bicalho.
Já seu livro Antônio Carlos Jobim – Uma Biografia é um dos pontos de partida para Tom Jobim Musical , espetáculo que chega ao palco do Teatro Casa Grande, no Leblon, região sul do Rio de Janeiro a partir de 17 de outubro sob a direção de João Fonseca. O livro de Cabral, junto à biografia escrita por Helena Jobim (1931-2015), faz parte do material de pesquisa para o texto de Nelson Motta e Pedro Brício sobre a trajetória do maestro soberano.
Há ainda outras biografias que devem ser descobertas pelo teatro musical, sendo a principal delas a do músico Pixinguinha (1897-1973), cuja história já esteve à beira de se tornar dramaturgia, mas ainda não aconteceu.
Mas não foi apenas a partir de seus livros que Cabral estabeleceu contato direto com o teatro musical. O jornalista, ao lado da historiadora Rosa Maria Araújo, Cabral roteirizou os musicais Sassaricando – E o Rio Inventou a Marchinha e É Com Esse que eu Vou – O Samba de Carnaval na Rua e no Salão , responsáveis por verdadeira historiografia das marchinhas de carnaval e dos sambas do início do século.
Sucesso de público e crítica, Sassaricando estreou no Rio de Janeiro em 2007 e tinha no elenco nomes como Eduardo Dussek, Soraya Ravenle, Sabrina Korgut, Juliana Diniz e Alfredo Del-Peño, também diretor musical. O espetáculo enfileirou nada menos do que 89 marchinhas lançadas entre 1920 e 1970 nos carnavais do Rio de Janeiro. A direção cênica de Claudio Botelho costurou as canções de modo a contar diferentes histórias em blocos temáticos separados por dois atos.
Já É com Esse que eu Vou , dirigido por Charles Möeller e Claudio Botelho, ganhou montagem em 2010 e recuperou nada menos do que 83 sambas compostos no início do século 20 e interpretados por nomes como Lilian Valeska, Beatriz Faria, Marcos Sacramento, Pedro Paulo Malta e os mesmos Alfredo Del Peño e Soraya Ravenle.
Ambas as montagens ganharam registro em CD e DVD postos nas lojas via Biscoito Fino que ajudam a eternizar em outras mídias as pesquisas históricas de Sérgio Cabral, que, já sofrendo do mal de Alzheimer, tinha nas lembranças de suas conversas com os grandes nomes da música, seu último fio de conexão com a realidade.
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