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Brasília

COLUNA DO RICARDO VIVEIROS

Publicado

em

SETEMBRO AMARELO

O World Suicide Prevention Day (WSPD), para nós Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, é data de conscientização destinada a motivar os povos, em nível mundial, no objetivo de evitar suicídios.

No Brasil, foi criad a campanha “Setembro Amarelo” tendo como inspiração a
data.

A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil no período de 2011 a 2022.

Já as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos aumentaram 29% anualmente nesses mesmos 11 anos.

O número foi maior que na população em geral, cuja taxa de suicídio teve crescimento médio de 3,7% ao ano e a de autolesão 21% ao ano, no mesmo período.

Tais índices foram encontrados na análise de um conjunto de quase um milhão de dados em um estudo divulgado, recentemente, pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA).

Estudos anteriores do Cidacs/Fiocruz já associaram o aumento do número de suicídios com a evolução das desigualdades sociais e da pobreza e com o crescimento da prevalência de transtornos mentais, que causam um impacto direto nos serviços de saúde, além de relatar as
variações nas taxas de cada região.

Os índices são alarmantes: cerca de 700 mil pessoas acabam com suas vidas todos os anos no Planeta, o que equivale a uma morte a cada menos de um minuto.

A maioria dos casos ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil e alguns outros da América Latina e África.

O assunto suicídio ainda é um tabu, embora tema de série na Internet.

E está cada vez mais preocupante, em especial, como dito acima, entre jovens.

Há, portanto, uma crescente epidemia de suicídio agravada por problemas econômicos e sociais.

Dados apontam que a cultura do ódio que o mundo experimenta, com graves polarizações, tem
contribuído para o cenário tão alarmante.

A vida só perde o sentido, quando acaba a esperança.

E o que é a esperança?

Não é apenas um sentimento, mas, acima de tudo, uma convicção pessoal, uma certeza de que
a vida vale a pena.

Não há esperança sem sonhos, projetos, desejos — motivos para existir.

Viver vale a pena porque você não é dono da vida.

Porque não foi você que se inventou, criou e integrou ao mundo.

Você não sabe o que vai acontecer no futuro, você pode arquitetar o amanhã ao seu jeito.

Cada pessoa é única.

Portanto, valiosa como os diamantes.

E eterna como eles, porque mesmo depois de sua morte será lembrada pelo que fez, representou.

Enfim, porque viveu.

Não porque morreu.

O suicida não é um covarde, é um corajoso desesperançado.

Um solitário absoluto, porque distante até de si mesmo.

O escritor francês Albert Camus disse que a única questão verdadeiramente séria da Filosofia é o suicídio.

A rigor, acho que esse é o mais complexo aspecto do mistério de existir.

Morrer por suicídio é uma escolha, uma questão íntima.

Uma atitude diante do sofrimento intenso.

Uma opção definitiva que se contrapõe aos muitos que morrem sem querer, lutando para continuar vivendo.

Há saída para o suicídio?

Sim, há.

E só depende de um olhar duplo e, aparentemente, antagônico.

Um olhar fechado no ponto mais profundo do seu ser e aberto para todos os pontos do universo.

Vontade de criar uma ponte segura entre você e as infinitas possibilidades da vida.

Para descobrir sua conexão com alguma delas.

E existem!

Se você acha que não serve para viver, tenha certeza de você é importante para a vida de alguém ou, até mesmo, de muitas pessoas.

Há crianças que foram muito desejadas por seus pais e que, em razão do destino, nasceram com sérios problemas físicos e mentais.

São seres aparentemente frágeis para a vida, mas, por outro lado, a razão de ser da vida dos que lhes cuidam com amor e carinho.

Há pessoas que tentaram o suicídio, não morreram e se tornaram brilhantes personalidades, descobriram curas para doenças, criaram meios para melhorar a vida de todos.

Qualquer ser humano com problemas pode ser útil, a si mesmo e ao próximo.

Um bom exemplo é o físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking, que tentou o
suicídio e, para o bem da humanidade, não morreu.

“Viver é perigoso”, disse o romancista brasileiro Guimarães Rosa.

Por isso mesmo, viver também é fascinante, mágico, desafiador.

Morrer não oferece oportunidade, viver permite chances de criar ou transformar cenários.

Experimentamos tempos difíceis.

Cada um tem suas dores.

Entretanto, devemos ponderar que é melhor matar a morte do que perder a vida.

Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura (Universidade Presbiteriana Mackenzie); autor, dentre outros livros, de "A vila que descobriu o Brasil", "Justiça seja feita" e "Memórias de um tempo obscuro". Apresenta o programa “Brasil, mostra a tua cara!” às sexta-feiras, 23 horas, na TV Cultura.