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Brasil

COLUNA DO RICARDO VIVEIROS

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Eleições: as aparências enganam…

Em ônibus urbano, um padre senta-se ao lado de um bêbado que, com
dificuldade, lê o jornal. De repente, com a voz “empastada”, o bêbado pergunta
ao padre:
— O senhor sabe o que é artrite?
O padre, de imediato, pensa em aproveitar a oportunidade para dar uma
reprimenda no bêbado. E responde:
— É uma doença provocada pela vida pecaminosa e sem regras, com excesso
de consumo de álcool, certamente sexo promíscuo, abusos e outras coisas que
nem ouso lhe dizer.
O bêbado arregalou os olhos espantado e continuou lendo o jornal.
Algum tempo depois, o padre, achando que tinha sido muito duro com o
bêbado, já arrependido, tenta amenizar o duro sermão:
— Há quanto tempo o senhor está com artrite?
— Eu?!… Não, eu não tenho artrite, não senhor. Li aqui no jornal que o Papa é
que está com essa doença. Que coisa, não?!
A piada serve para refletir sobre o que estamos vivendo. Observo, depois do
primeiro turno das eleições municipais e às vésperas do segundo em algumas
cidades, a preocupação de muitas pessoas com os resultados e com o futuro.
Muitos acreditam em promessas de campanha, por exemplo na segurança,
sem saber que essa responsabilidade é dos estados e não das prefeituras.
Alguém vai contestar, lembrando das Guardas Civis Metropolitanas (GCM).
Elas são, apenas e tão somente, para proteger próprios municipais como
escolas, hospitais, monumentos públicos etc.

E há outras promessas difíceis de serem cumpridas: combate à corrupção;
redução do número de secretarias; fim imediato das filas na saúde ou das
enchentes; nenhuma parceria com as velhas e as novas raposas da política,
como as do Centrão; nada de fisiologismo; e por aí seguem.
Como o padre equivocou-se quanto ao bêbado do ônibus, os candidatos que
passaram ao segundo turno das eleições municipais têm mostrado que os seus
eleitores poderão se equivocar quanto a eles. O que, de fato, é possível fazer?
E com quais recursos? As câmaras eleitas vão dar garantir a qual dos
candidatos a maioria para governar e, assim, ter os seus projetos aprovados,
criar as políticas públicas não de interesse do governo, mas da sociedade?
Enquanto continuarmos elegendo oportunistas “salvadores da Pátria” no lugar
de verdadeiros estadistas, cairemos na armadilha que a suposição do padre o
levou a condenar o bêbado sem pensar no que lhe era mais importante. Afinal,
artrite também ataca muitas pessoas que são austeras e bem-comportadas. As
aparências enganam.
Não perca tempo com suposições, mentiras e ataques pessoais. Reflita apenas
sobre fatos. E vote consciente.

Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura (Universidade Presbiteriana Mackenzie); autor, dentre outros livros, de "A vila que descobriu o Brasil", "Justiça seja feita" e "Memórias de um tempo obscuro". Apresenta o programa “Brasil, mostra a tua cara!” às sexta-feiras, 23 horas, na TV Cultura.