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Desistência de Biden à reeleição entra para a história da política teatral dos EUA; lembre casos

Presidente deixa corrida pela Casa Branca e deverá inspirar futuros espetáculos

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O 46º Presidente dos Estados Unidos Joe Biden

Não se pode dizer que tenha sido uma surpresa a desistência de Joe Biden de concorrer à eleição presidencial dos Estados Unidos agendada para novembro. Isso porque desde seu desastroso desempenho no debate realizado em junho contra o então pré-candidato republicano Donald Trump, Biden vem sofrendo pressões do partido, de apoiadores, da imprensa e de doadores da campanha para que desista de tentar a reeleição.

Anunciada na tarde deste domingo, 21, a desistência do presidente era amplamente esperada e entra para a história da política norte americana como o resultado de uma crise do Partido Democrata que se arrastou por cerca de um mês, quando mesmo aliados do quilate do ex-presidente Barack Obama e da histórica democrata Nancy Pelosi se posicionaram por sua saída da disputa.

Muitas discussões entram em pauta no que diz respeito às pressões sofridas pelo democrata. Desde debates sobre etarismo até os meandros do poder e como é difícil abrir mão dele, tudo se torna material para analistas políticos e, sintomaticamente, para aqueles que produzem dramaturgia.

Isso porque os Estados Unidos têm costume de levar para a cena questões políticas que elevam discussões não apenas sobre as figuras envolvidas, mas sobre a construção de uma sociedade norte americana que, desde a eleição de Donald Trump, tem se tornado cada vez menos cosmopolita e universal e mais centrada em suas próprias raízes.

Entre os espetáculos mais famosos a levar à cena discussões sobre a política e a auto-imagem americana está o blockbuster musical Hamilton , espetáculo de Lin Manuel Miranda que traça um perfil biográfico do estadista Alexander Hamilton (1757-1804), responsável por desenhar o sistema financeiro dos Estados Unidos no século 18, parte do processo de independência da nação.

Estreado em 2015, Hamilton levou para os musicais a história da fundação sócio-política dos Estados Unidos e, aliado à linguagem do rap e a um elenco formado majoritariamente por atores afro-americanos, a montagem se tornou um dos maiores sucessos do teatro musical moderno.

Longe do período de fundação da América, The Best Man , de Gore Vidal (1925-2012), ganhou produção em 1963 na Broadway e teve como foco a disputa de dois candidatos durante as primárias pela indicação do partido para a corrida presidencial. Embora não trabalhe com nomes ou acontecimentos verídicos, o texto tinha como principal inspiração as eleições do Partido Democrata em 1960, no qual John F. Kennedy (1917-1963) saiu vitorioso.

Na obra, Vidal pinta um candidato jovem e ambicioso capaz de fazer qualquer coisa para ser o candidato à Presidência da República, e assim mina o caminho de seu adversário em busca do apoio de alas conservadoras dentro do partido e de um importante ex-presidente, traçando um paralelo com os caminhos seguidos por Kennedy antes de se eleger à casa Branca.

O processo de eleição de pré-candidatos costuma ser terreno fértil para dramaturgos, entre eles Beau Willimon, roteirista e idealizador da série House of Cards e autor de The Parisian Woman , espetáculo que tem como foco a figura de uma socialite que influencia na eleição de candidatos republicanos antes da convenção através dos contatos que faz ao se casar com um diplomata aposentado.

A obra foi escrita em 2013, mas chegou à Broadway em 2017 estrelada por Uma Thurman no momento em que Donald Trump assumia a cadeira presidencial. A adaptação feita por Willimon já buscava dar conta da guinada à extrema direita que o partido republicano dava a entender que daria já naqueles anos de 2016 e 2017 e, assim como a obra de Gore Vidal, não trabalhava com personagens reais, mas com boas caracterizações.

Ainda no que diz respeito à corridas eleitorais, a de 2008, quando a ex-primeira dama e senadora Hillary Clinton disputou as primárias do Partido Democrata com o então senador Barack Obama, foram pano de fundo para Hillary and Clinton , espetáculo do dramaturgo Lucas Hnath, que estreou na Broadway em 2019.

Hnath, que se notabilizou pelo espetáculo Casa de Bonecas parte 2 , usou a disputa pela candidatura de 2008 como pano de fundo para discutir o casamento de Hillary e Bill Clinton, ex-presidente. No espetáculo, Bill foi convocado para ajudar a esposa a tentar ganhar delegados que a permitissem concorrer, mesmo sabendo que ela não teria chances contra Obama.

Se Lyndon B. Johnson (1908-1973), ao assumir a presidência após a morte de John F. Kennedy, não tivesse se envolvido com o processo do fim da segregação racial, talvez não houvesse All the Way , espetáculo que estreou em Londres em 2012 estrelado por Bryan Cranston.

Assim como não haveria Ann , monólogo estrelado por Holland Taylor, que estreou em 2010, se a senadora Ann Richards (1933-2006) não tivesse sido a última democrata a governar o estado do Texas e não tivesse sido responsável pela revolução nos sistemas prisional e educacional do estado.

A mesma Holland Taylor está em cartaz no off-Broadway, ao lado de Ana Villafañe, em N/A , espetáculo sobre um debate ideológico entre duas gerações distintas de congressistas dos Estados Unidos, que, mesmo sem nomes revelados, são claramente inspiradas nas democratas Nancy Pelosi e Alexandria Ocasio-Cortez.

Debate de ideias é também o que move Frost-Nixon , espetáculo que narra a trajetória de uma entrevista tensa entre o jornalista britânico David Frost (1939-2013) e o ex-presidente Richard Nixon (1913-1994), responsável pelo escândalo de Watergate e que estreou em Londres em 2006.

Estes são apenas alguns exemplos da política levada à cena sob o viés moderno em um movimento ao qual, indubitavelmente, a desistência de Joe Biden de concorrer à reeleição estará na mira para ser devidamente explorada por dramaturgos que ainda busquem compreender o processo de formação de uma identidade americana. A ver…

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