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Brasil

COLUNA DO RICARDO VIVEIROS

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ENTRE FATOS E VERSÕES

Em tempos de negacionismo, de debates acalorados sobre temas óbvios, de rompimentos com familiares, amigos, vizinhos e colegas diante de radicalismos gerados por uma dissonância cognitiva que há uns sete, oito anos tem vitimado boa parte da população brasileira, lembro de uma fábula que aprendi na escola no antigo curso Primário. 

De autoria desconhecida, o texto traz um diálogo entre um burro, um tigre e um leão.

O burro disse ao tigre:

– A grama é azul.

O tigre respondeu:

– Não, a grama é verde.

A discussão ficou exaltada, e os dois decidiram buscar uma arbitragem superior.

Foram procurar o leão, o “rei da selva”.

Perguntou o burro:

– Sua Alteza, não é verdade que a grama é azul?

O leão respondeu:

– Certo, a grama é azul.

O burro, satisfeito, prosseguiu:

– O tigre discorda de mim e me contradiz.

Isso me irrita.

Por favor, castigue-o!

O rei então declarou:

– O tigre será punido com um ano de silêncio.

O burro pulou alegremente, e foi embora repetindo:

– A grama é azul!

A grama é azul!

A grama é azul!

O tigre aceitou sua punição, mas antes perguntou ao leão:

– Vossa Majestade, por que me castigou?

Afinal, a grama é verde.

No que o leão, surpreendendo o tigre, disse:

– Na verdade, a grama é verde!

O tigre perguntou:

– Então, por que Vossa Majestade me puniu?

O leão respondeu:

– Isso não tem relação alguma com a questão, se a grama é azul ou verde.

O castigo acontece porque não é possível que uma criatura corajosa e inteligente como você, perca seu tempo discutindo com um burro.

E, ainda por cima, venha me ocupar com essa bobagem.

Moral da história. 

Jamais se desgaste com discussões que não fazem sentido.

Não debata ou argumente com burros.

Entretanto, mantenha seu direito a tratar qualquer assunto com quem quer que seja, desde que não implique em temas fora da realidade.

É desnecessário discutir com radicais que se posicionam longe da verdade, apegados a um imaginário surreal.

Só vale a pena ajudar, orientar, aclarar assuntos com pessoas que desejam aprender, evoluir com o debate.

Sigmund Freud, austríaco criador da Psicanálise, diante da fama dos alemães em serem teimosos, dizia:

“Alemão não é teimoso. Teimoso é quem teima com alemão.”

Assim sendo, vale lembrar que a terra é redonda, que a vacina salva, que todos merecem respeito, que cultura e educação são essenciais ao desenvolvimento, que desmatamento além de ilegal é nocivo à vida, que “rachadinha”, venda de patrimônio público e golpismo são crimes, que liberdade de expressão implica em responsabilidade de expressão, que livros são melhores do que armas, que a democracia é um bom regime e que as praias brasileiras, como as praças, pertencem ao povo.  

Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura (Universidade Presbiteriana Mackenzie); autor, dentre outros livros, de "A vila que descobriu o Brasil", "Justiça seja feita" e "Memórias de um tempo obscuro". Apresenta o programa “Brasil, mostra a tua cara!” às sexta-feiras, 23 horas, na TV Cultura.