Bahia
Coluna do Ricardo Viveiros
BRASIL, ESTE PAÍS TÃO COMPLEXO
O Brasil nunca foi um país fácil de entender e explicar, em especial, nos campos da política, da economia e do comportamento social.
O que se viu e viveu de 2018 a 2022 foi ainda mais inusitado. Um período que, por diferentes razões, pode-se denominar “bizarro”.
Em episódios recentes, entre outras indagações mais simples, foi difícil esclarecer aos colegas da imprensa internacional o que significam expressões como “mimimi”, “tchutchuca” e, o mais constrangedor, “imbrochável”.
Até porque pronunciadas em um País que não pode ser engraçado quando havia quase 700 mil mortos pela covid-19, em 2022 somava 67,758 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, forte desemprego, violência urbana e rural (incluindo preconceitos e discriminações contra negros, mulheres, indígenas, LGBTQIA+, migrantes), baixa cobertura e qualidade no ensino, muitos ataques à natureza, elevada carga tributária, altos índices de corrupção.
Escrevi e foram publicados originalmente, com exclusividade nos jornais Folha de S.Paulo e Estadão, vários artigos sobre nossas adversidades.
Depois, em outros veículos da mídia impressa e digital por todos os estados brasileiros.
Alguns desses artigos mereceram traduções e foram também publicados em veículos de outros países, por exemplo, “Frágil democracia”, que saiu na Argentina, na Colômbia, nos Estados Unidos, em Portugal, na Áustria, na Itália, na Rússia, no Paquistão e na China.
Acompanho de perto os últimos 50 anos do Brasil.
Observo que, por problemas históricos, de modo específico na Cultura e na Educação, de maneira cíclica a sociedade busca, em cada nova eleição, um “salvador da Pátria”.
A rigor, o processo político é repetitivo nos erros e pouco inovador nas propostas.
São raras as efetivas e confiáveis jovens lideranças que surgem com foco apenas nos reais interesses da sociedade, defendendo medidas viáveis de Estado, e não de governo, a longo prazo e com segurança jurídica.
O Brasil sobrevive na coragem e resiliência de um povo único, que mescla dor e alegria como algo natural – gente movida por inabalável fé e esperança.
Nos últimos anos, a população do País se dividiu entre os “contra” e os “a favor”, desta vez de maneira perigosa e preocupante.
Tomaram força temas relevantes que, sob radical confronto e não salutar debate, permitiram surgir e crescer uma “Cultura do ódio”, título de outro dos artigos.
A moderna tecnologia da comunicação tornou-se arma poderosa nesse embate, dando espaço às fake news, que comprometem a verdade.
Tais artigos foram reunidos em um livro intitulado “Memórias de um tempo obscuro” (Editora Contexto), eles registram acontecimentos e propõem reflexões e mudanças.
Alertam sobre o surgimento de riscos que vão muito além do populismo nacionalista, que se apropriou das cores de nossa bandeira e caracteriza um tipo de democracia não participativa, muito menos representativa.
É autocrática, embora eleita pelo voto livre, direto e secreto.
Essa estranha democracia ignora que a imprensa existe para governados, não para governantes.
E que liberdade de expressão implica responsabilidade de expressão.
Temos um grande País, que é nosso – de todos os que nele vivem e trabalham.
Precisamos, pela consciência de nossos problemas, com responsabilidade cidadã, corrigir cada um deles e avançar.
Com paz, liberdade e respeito às pessoas e às leis – a começar da Constituição.
Como as crenças religiosas, as opções ideológicas também são livres.
Cada brasileiro pode acreditar no que bem entender, desde que saiba diferenciar fatos das opiniões sobre eles.
O livro “Memórias de um tempo obscuro” resgata acontecimentos, alerta sobre perigos e busca contribuir para que alguns erros não aconteçam de novo.